Review: Uma segunda chance para amar

Como parte da tradicional época natalina, não poderia faltar produções hollywoodianas baseadas em histórias dentro deste contexto. Embora possa parecer uma produção barata e independente, para lucrar entrando no clima caloroso e no conforto de uma época muito aguardada, ideias podem ser derrubadas e opiniões mudadas. Acredite em mim quando digo isso e se surpreenda com o excelente trabalho que o Diretor Paul Feig entrega e que merece receber total atenção do público.

Por sinal, preciso dizer que dei com a língua entre os dentes e realmente gostei de “Uma segunda chance para amar” e esta não é nem de longe o único plot twist a surpreender aqui. O filme tem roteiro de Bryony Kimmings e Emma Thompson, e se baseia na música de mesmo título “Last Christmas” de George Michael,  ha também outros clássicos do cantor que embalam o filme de forma agradável a contrastar com altos e baixos vividos por Kate, (Emilia Clarke). uma fracassada aspirante a cantora de 26 anos e sem teto, que se autodeprecia, além de ser egoísta, fica com muitos caras aleatórios e tem a estranha mania de perder amizades ao quebrar coisas e, em mais um dos muitos episódios desastrosos por falta de atenção, mata um excêntrico peixe raro.

A história tem como protagonista Kate, cuja Família são refugiados da antiga Iugoslávia e vivem em Londres desde o final dos anos 90. Algumas bagagens emocionais tornam a convivência desta família um desafio e algo a ser superado, a mãe de Kate, Petra (Emma Thompson) exerce um papel de apoio importante na trama, é uma pessoa reclusa, sem vida social, deprimida e preocupada com sua família e principalmente com sua filha mais nova – que vive a ignorando- embora agora viva na Inglaterra não deixou totalmente o antigo país para trás, convivendo com o medo de serem expulsos do país, o marido, Ivan (Boris Isakovic) um ex advogado que sem condições de validar o diploma, trabalha como taxista para passar mais tempo fora de casa e assim evitar sua esposa que com problemas vive a reclamar, Marta é a filha mais velha e uma Advogada de sucesso e tem uma desavença com sua irmã, escondendo dos seus pais o relacionamento com uma mulher.

Quando criança, Kate era uma promissora cantora, mas anos mais tarde uma doença no coração muda sua trajetória e as coisas tornam-se diferentes, enquanto carrega sua bagagem pelas ruas de Londres, Kate se vê sem destino certo (evitando sua própria família e hospedando-se temporariamente na casa de amigos) enquanto isso, tenta seguir seu sonho de ser uma famosa estrela de sucesso, ela trabalha vestida de elfo na loja de artigos natalino da Papai Noel (Michelle Yoh) que se diz “sortuda” por tê-la como funcionaria e observa que, desde que kate retornou ao trabalho depois de sua doença, ela não é mais a mesma – sendo uma péssima funcionaria irresponsável e esquecendo de trancar a loja em uma noite, o que traz consequências desastrosas.

Tom Webster, é um cara estranho, sincero e flexível que chama a atenção de kate quando este se encontra do lado de fora da loja. Os dois conversam rapidamente e ele decide por conta própria convida-la para passear, o que a primeiro momento é um convite negado, mais tarde ambos voltam a se encontrar após se esbarrarem e, a partir daí é criado um vínculo de amizade. Grande parte da visão de Kate sobre a vida e sua mudança de comportamento, acontece depois que ela conhece e se torna amiga do misterioso homem, que contagia com sua simplicidade em pular e dançar como se estivesse em um musical e sempre terminar dizendo para kate “Olhar para Cima”. Tom apresenta pequenos pedaços da cidade -lugares escondidos, pouco frequentados- beco com bonitas iluminação de luzes e pedaços de Londres que ela nunca notou, com alguns detalhes a serem observados durante o trajeto e um parque tematizado de natal, onde os dois compartilham um momento mais íntimo.

Depois que eles saem algumas vezes – e depois que a loja é saqueada, por ela esquecer de trancar – Kate se vê desabrigada e por um fio no seu emprego, tom apresenta o abrigo para sem tetos onde diz ser voluntário, Kate resolve voltar para a casa de seus pais e após isso, percebe que precisa se responsabilizar por suas ações e ser proativa em resolver situações da sua vida.

O relacionamento de Kate com tom é sem dúvidas íntimo, mas fisicamente distante, enquanto ela demonstra extravagância no jeito de vestir-se e tem uma atitude mais rebelde, ele é um pouco perfeito demais para ser real, com vestimentas adequadas e um comportamento mais gentil e respeitoso, se locomovendo de bicicleta pela cidade e é voluntario no abrigo. Mas isso permite o crescimento da personagem no decorrer da história à medida que seu par romântico aparece (e também quando some) ao tentar transforma-la, seja com uma frase ou atitude apropriada, fazendo Kate se redescobrir e passando a se valorizar mais e a também fazer boas ações ajudando o próximo.

Para saber o desfecho dessa história você terá que assistir “uma segunda chance para amar”.  O filme funciona muito bem como uma comedia romântica, mas guarda momentos de fortes emoções. Henry Golding e Emília Clarke entregam uma brilhante performance formando uma dupla e tanto, que cativa olhares e faz o público torcer pelo casal, em alguns momentos o longa se beneficia do maravilhoso retrato da bela cidade de Londres e suas aconchegantes ruas iluminadas. Além disso, o filme conta com importantes personagens carismáticos, destaque para Emma Thompson, no papel da mãe de Kate, e Michelle Yeoh interpretando a “Papai Noel”, chefe da protagonista. mas infelizmente o filme não atende as expectativas ao máximo explorando todo seu potencial. Os momentos de humor são divertidos e funcionam bem, existem situações no roteiro que se remetem a outras musicas de George michael e faz isso de maneira muito bem planejada, e permite abordar importantes assuntos sociais que são pontos a discutir, são eles: Homofobia, Brexit e Xenofobia, presentes na história, mas que não justifica cada uma das menções pelo falta de aprofundamento. Mesmo assim, essa é uma jornada emocionante e uma bela homenagem a George Michael, com momentos a surpreender e lidando com questões humanas reais e deixa uma valiosa lição a ser levada pra vida.

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