Ponte dos Espiões (2015)

O longa conta a história de James Donovan (Tom Hanks), um advogado do ramo de seguros do Brooklyn que, durante a Guerra Fria, é escolhido para defender nos tribunais um espião russo, odiado por toda uma nação. E logo depois, a pedido da CIA, é enviado a Berlin para negociar a troca de um piloto americano pelo espião russo. Os roteiristas Matt Charman e os irmãos Ethan e Joel Coen transformaram a experiência de Donovan em uma história inspirada em eventos reais.

Existem os filmes de espionagem voltados para a ação (como exemplo absoluto a franquia 007), comédia (estilo Austin Powers) e com base política. É neste último gênero que se encaixa o novo longa de Steven Spielberg. Por não se enquadrar nas duas primeiras categorias, não temos aqui cenas de perseguição, lutas ou explosões. Tampouco piadas estilo pastelão ou momentos besteirol (às vezes temos algum comentário irônico ou engraçadinho para quebrar o clima).

Por ser baseado em uma história real, o foco aqui são os fatos e o contexto histórico. Portanto, “Ponte dos Espiões” (Bridge of Spies) não deixa de ser uma obra de entretenimento, mas vale mais ser assistido pelo aspecto cultural. Um filme para ser exibido em aulas de história e temas afins.

A espionagem por si só já é um termo que chama atenção. Como já citado, os filmes de James Bond ajudaram a “glamourizar” a profissão, com seus belos carros, mulheres, equipamentos tecnológicos e martinis. Isto fez até com que algumas pessoas considerem esta profissão (se é que posso chamar assim) uma lenda ou folclore. Registros recentes provam que a espionagem (seja ela industrial, política ou até mesmo digital) continuam presentes e atuantes no nosso dia-a-dia, mas de uma maneira bem menos elegante e empolgante do que foi representado.

 

E este filme é um bom exemplo de como a espionagem se torna um problema político. As “técnicas de espionagem” praticamente não são exploradas, exceto no interessante início do filme, focando a história nas complicações e desdobramentos tomados pelos países que espionam e que são espionados a partir da captura de um deles, no famoso período de guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética. Outro momento importante da história mundial abordado no filme que merece elogios e atenção é o início da construção do muro de Berlim, e como se tornaram a Alemanha Oriental e Ocidental pós-guerra.

Para contribuir ainda mais para deixar a história natural e bem contada, tiveram a sabedoria de contar com um dos melhores atores de Hollywood de todos os tempos. Tom Hanks dispensa apresentações (espero), faz um tempinho que não ganha um Oscar, mas para quem já viu Filadélfia, Forrest Gump, O resgate do soldado Ryan, Náufrago, À espera de um milagre e O Terminal (entre outros, fora as dublagens), sabe que no mínimo verá uma atuação de talento e qualidade.

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Além do inegável enriquecimento cultural, resgate histórico e merecida homenagem ao advogado James Donovan, que assumiu um papel humanitário importante durante vários anos, o filme também nos traz outros fatores que fazem com que vale a pena ser visto. Muito bem produzido, editado e dirigido. O filme se torna lento em alguns momentos (a vida também é assim, né?), uma pitada do famoso patriotismo americano, um clichézinho básico aqui ou ali, mas a forma como a história foi contada mantém o interesse, e a excelente parte final do filme faz com que qualquer possível incômodo ou cansaço durante o longa seja facilmente esquecido. Spielberg não nos trouxe uma obra de emoção como fez com “A Lista de Schindler”, mas novamente entrega um produto de qualidades técnicas impecáveis, como produção, roteiro, som, imagem e fotografia. Mais ou menos como aquela escola de samba que não faz a plateia levantar ou cantar o hino, mas ganha o campeonato porque fez um desfile sem falhas.

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