Parasita: Gisaengchung (2019)

Salve Nosetmaníacos, eu sou o Marcelo Moura e finalmente consegui assistir o tão falado filme Parasita de 2019. Que tal falarmos um pouco mais desse filme coreano.

Parasita (2019): Direção Bong Joon-ho, produção Kwak Sin-ae, Moon Yang-kwon e Jang Young-hwan, roteiro Bong Joon-ho e Han Jin-won. Elenco Song Kang-ho, Jang Hye-jin, Choi Woo-shik, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Cho Yeo-jeong, Jung Ji-so, Jung Hyun-joon, Lee Jung-eun e Park Myung-hoon. Companhia produtora Barunson E&A Corp, distribuição Coreia do Sul CJ Entertainment, Brasil Pandora Filmes e Portugal Alambique Filmes.

Com um orçamento de US$ 11 milhões e a receita mundial de US$ 137 milhões Parasita é um filme de suspense e humor sul-coreano de 2019 que teve a sua estreia mundial no Festival de Cannes de 2019, a 21 de maio, onde ganhou a Palma de Ouro, tornando-se no primeiro filme sul-coreano a receber o prestigiado prêmio assim como no mais recente filme a ganhar com o voto unânime do jurado do festival, desde “Azul é a cor mais quente” em 2013. Foi também selecionado como o filme representante da Coreia do Sul na categoria de Melhor Longa-Metragem Internacional da 92.ª edição dos Óscares, tendo vencido nessa categoria, assim como nas de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme, algo inédito para um filme estrangeiro e em outro idioma.

Sinopse: Em Parasita, toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Crítica: Com uma ótima direção de Bong Joon-ho (Expresso do Amanhã e O Hospedeiro), Parasita é um daqueles filmes que nos assombram e nos fazem pensar do começo ao fim, principalmente porque se anuncia como um filme reto e simples, mas que no meio se revela surpreendentemente como um ciclo vicioso de preconceitos e relações pré determinadas através de relações sociais. A cena de abertura com a desinsetização, a família morando no subsolo, sendo que a privada está na altura do solo, além da busca de um wi fi e o subemprego já nos dá em manos de dez minutos uma medida social do que está por vir.

Só que surpreendentemente e o diretor Bong Joon-ho foge do padrão Hollywoodiano, ao fazer um filme de quatro atos e não três, subvertendo nossas expectativas com várias revelações a cada ato, deixando apenas para o último ato, um a manis do que o esperado, o desfecho de toda a trama, algo muito incomum no cinema mundial.

No primeiro ato temos a apresentação dos personagens e seu ambiente de vida, onde determinamos as regras do filme para o público, assim seguindo para o melhor entendimento a história. No segundo entrelaçamos as tramas e subtramas, para que o contexto pegue o ritmo necessário, mas a inclusão de um terceiro ato que desfaz o que já está combinado entre filme e público e dá nova direção a trama, com novas possibilidades, é algo surpreendente e subversivo, que mal produzido pode ser um desastre, mas aqui corre de maneira inteligente e sublime, tanto na relação das três famílias envolvidas na trama, revelando aquilo que é o título do filme como um despertar, que PARASITA é um conceito social de todas as classes e não apenas de uma.

Conforme já conversamos no metafórico filme espanhol O Poço, do diretor Galder Gaztelu-Urrutia, filmes sobre classes sociais não podem ser vistos de maneira única e reta e Parasita não é definitivamente um filme comum, mas uma mistura de drama, suspense e comédia em um mesmo pacote, ora nos divertindo ora nos incomodando com as atuações do elenco, para nos envolver as necessidades das famílias, em alguns casos sobreviver em uma sociedade hostil, outras em apenas manter o padrão familiar. Não é a toa que em várias cenas os patriarcas se questionem sobre o que é amor e felicidade.

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Outro ponto interessante do roteiro são as definições das classes sociais, onde a menos favorecida, apesar de ter uma certa moral, vive de pequenos golpes para ascender na vida, já que as tentativas de empreendimento fracassaram amargamente em dividas e empréstimos. Já a alta sociedade é retratada como possuindo uma aura de poder e inocência que transcende muitas vezes a realidade. Assim como o cheiro que toda a família menos favorecida exala, retratando seu Status Quo no filme que não é sentida pelos próprios, foi a melhor maneira que o diretor achou para mostrar que as origens não podem ser apagadas meramente com uma mudança de Classe Social, onde nós esperaríamos mal jeitos ou palavrões comuns ao nível social,  Bong Joon-ho demonstra com inteligência que muitas vezes a situação social vem de erros escolhas mal feitas e não por opção. A família rica é retratada fria, fútil e sem nenhuma malícia, sendo enganada por todos o tempo todo, como se fossem cegos a realidade. A cena final onde o conflito generalizado acontece, fica claro como a alta sociedade não enxerga os problemas das classes menos favorecidas, não importando a relação de gravidade entre um e outro.

Parasita é uma excelente produção, com um elenco de primeira, que acerta nas relações entre as camadas sociais e uma obra a ser vista de várias maneiras, cada vez nos apresentando ângulo diferente da história.

Curiosidade: A ideia para Parasite surgiu em 2013. Enquanto trabalhava no Snowpiercer , Bong foi incentivado por um amigo ator de teatro a escrever uma peça. Ele era tutor do filho de uma família rica em Seul, com pouco mais de 20 anos, e considerou transformar sua experiência em uma produção teatral.  O título do filme, Parasite , foi selecionado por Bong por servir um duplo significado, que ele teve que convencer o grupo de marketing do filme a usar. Bong disse: “Como a história é sobre a família pobre se infiltrando e entrando na casa rica, parece muito óbvio que Parasite refere-se à família pobre, e acho que é por isso que a equipe de marketing ficou um pouco hesitante. Mas se você olhar para o outro lado, pode dizer que uma família rica também é um parasita em termos de trabalho. Eles não podem nem lavar a louça, não podem dirigir sozinhos, então sugam o trabalho da família pobre. Então, ambos são parasitas. “.

Gisaengchung faturou US$ 20,8 milhões durante o fim de semana de abertura na Coréia do Sul. Desde então, arrecadou um total de US$ 70,9 milhões a nível nacional e US$ 19,2 milhões internacionalmente, totalizando US$ 90,1 milhões.

No site Rotten Tomatoes, o filme mantém uma taxa de aprovação de 99%, baseando-se em 333 comentários, com uma classificação média de 9,39/10. O consenso crítico do site diz: “Com uma análise urgente e brilhante de temas sociais oportunos, Parasite (nome que o filme recebeu nos Estados Unidos) encontra o diretor e argumentista Bong Joon Ho no comando quase total do seu ofício”. No Metacritic, que usa uma média ponderada, foi atribuído ao filme uma pontuação de 96 em 100, com base em 48 críticas, indicando “aclamação universal”.

Ao escrever para o The New York Times, A.O. Scott descreveu o filme como “um filme extremamente divertido, o tipo de filme inteligente, generoso e esteticamente energizado que elimina as cansadas distinções entre filmes de arte e filmes de pipoca”. Bilge Ebiri, da NY Mag, escreveu que Parasite é “um trabalho em si, em constante estado de transformação agitada – uma obra-prima que quebra os nervos, cujo feitiço permanece muito tempo depois de sua assustadora imagem final”. Dave Calhoun, da Time Out, elogiou o comentário social e afirmou que “este é um trabalho deslumbrante, surpreendente e emocionante do começo ao fim, cheio de grandes estrondos e pequenas maravilhas”. Jessica Kiang, da Variety, descreveu o filme como “um passeio selvagem”, escrevendo que “Bong está de volta e de forma brilhante, mas ele está inconfundivelmente a rugir furiosamente, e isso fica registrado, porque o alvo é tão merecedor, tão enorme, tão incrível”.

Segundo o site BLAHZINGA, em crítica de Fernando Coutinho, “é justamente quando começamos a descobri as relações do filme que ‘Parasita’ fica bom. Como quem prova e degusta um bom vinho, assista sem pressa.”.

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