Crítica: Os Meninos que Enganavam Nazistas

A autobiografia Un sac de billes, de Joseph Joffo, narra os eventos acontecidos quando tinha 10 anos ao lado do irmão Maurice de 12, durante a ocupação nazista da França. Un sac de billes significa saco de bolinhas de gude, em francês. O passatempo preferido deles. O livro já tinha sido adaptado para o cinema em 1975 pelo diretor francês Jacques Doillon. Neste remake, dirigido pelo canadense Christian Duguay, a fidelidade com o livro é maior. E a tradução brasileira já denuncia o grande feito dos dois irmãos cabendo o público saber como foi.

Em 1942, na capital francesa, os irmãos já sabiam da sua ascendência judaica, conheceram a hipocrisia e o medo da influência alemã sobre toda a sociedade francesa. Se antes brincavam tranquilos na neve ou faziam lutinhas entre eles, agora suas roupas eram obrigadas a ter uma estrela de Davi com Judeu escrito nela e as outras crianças começaram a bater neles.

Temendo o pior, seu pai, um refugiado da Rússia devido os Pogrom, decidiu enviá-los à chamada Zona Livre em Nice por segurança na calada da noite. Assim com um mapa e uma soma de dinheiro, Maurice (Batyste Fleurial) e Jojo (Dorian Le Clech) começa seu ciclo de união e separação dos pais. Enfrentam batidas policiais, sobrevivem ao toque de recolher ao pagar um guia, vão para um colégio interno, pegam carona com fazendeiros, aprendem a fumar.  Por onde passam, o passado deles é motivo de perseguição.

Duguay usa câmera widescreen mais fechada e em close-ups para mostrar a restrição de liberdade dos garotos assim como os constantes diálogos entre si. O excesso de movimento e a falta de apoio em certos ângulos dão a sensação de documentário dramático. Mesmo assim, a gente ainda vê muitas brincadeiras e alegrias da vida nessa época tão séria e hostil. A fotografia dá espaço para as belas paisagens francesas e os cenários urbanos, o que dá um alivio entre os momentos de tensão constante.  A trilha sonora acompanha todos as cenas de alegria e tensão dos personagens. O silêncio serve para viradas de cena e as surpresas nas sequencias.

A atuação de Dorian chama atenção ao mostrar a fragilidade emocional de quem precisa amadurecer mais cedo. Sem deixar de lado, a tensão constante do período histórico que exige a preparação de um ator. Junto com Batyste Fleurial, a química deles funciona muito bem para mostrar o amor forte entre irmãos em tempos tão difíceis sem ser piegas ou apelar para o politicamente correto. E ambos atores tem a mesma experiência em número de longa-metragens.

O filme aparentemente é um drama de amadurecimento juvenil muito próximo de uma crônica do que o holocausto ou a causa judaica. Tem sequencias de comédia, voz lírica sobre independência dos pais e liberdade de expressão com palavras chulas e momentos família unida.

Peguem suas bolinhas de gude, metam no saco e vejam como os garotos enganaram os nazistas.

Sinopse: Na França ocupada, dois jovens irmãos judeus, Joseph e Maurice, desenvolvem uma incrível dose de malícia, coragem e habilidade para escapar da invasão inimiga na região e encontrar sua família novamente.

Direção: Christian Duguay
Roteiro: Jonathan Allouche, Benoît Guichard e Christian Duguay

Elenco: Dorian Le Clech, Batyste Fleurial Palmieri, Patrick Bruel, Elsa Zylberstein e Ancelier Bernard Campan.

 

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