O Gênio e o Louco – Obra-prima baseada em fatos reais.

Será que algum de nós tem a real noção do trabalho envolvido na confecção de um dicionário? Usar esta ferramenta indispensável ao escriturarmos algo já é quase imperceptível, principalmente se levarmos em conta as facilidades dos aplicativos e programas que localizam os significados das palavras para nós. Mas, sejamos honestos, a maioria não tem mesmo a menor noção da dificuldade em torno da criação de um dicionário. Agora, vamos colocar estas dificuldades em um nível ainda mais complexo ao extrairmos completamente a informática, a existência de outros dicionários similares e os processos de catalogação de cada palavra que exigiam pesquisas longas e árduas em livros e todas as publicações existentes de língua inglesa. Definitivamente, criar o dicionário de Oxford foi algo hercúleo que denotou os esforços de incontáveis pessoas. E é sobre o início dessa obra o filme O Gênio e o Louco.

Baseado no livro The Surgeon of Crowthorne: A Tale of Murder, Madness and the Love of Words, escrito por Simon Winchester e publicado na Inglaterra em 1998 pela Oxford University Press (OUP) – posteriormente traduzido para o português, em 2009, ganhando o nome de ‘O Professor e o Louco’, o filme é uma produção da Imagem Filmes e conta com a direção de Fahrad Safinia que assina o roteiro ao lado de John Boorman e Todd Komarnicki.

Definições de loucura e genialidade.

Uma das primeiras lições ensinadas através desta obra-prima é sobre preconceitos ou pré-conceitos. O ser humano (em sua maioria) tende a julgar por aparências ou títulos, pois essa é a doutrina que recebemos direta e indiretamente. Isto tende a piorar quando voltamos algumas dezenas de anos no tempo, já que racismo, diferenças sociais, preconceito e a diferença cultural entre ricos e pobres era algo gritante. Esse longa-metragem se passa no fim do século XIX, uma época dura e limitada tecnologicamente. Aliás, a limitação cultural era gigantesca, pois as oportunidades não eram – assim como hoje – para todos. É nesse época rústica e árdua que encontramos James Murray (Mel Gibson), um autodidata com uma inteligência acima do normal, assim como sua vontade de ingressar em um seleto grupo que teria a quase impossível tarefa de montar o Oxford English Dictionary, atualmente a maior e mais completa obra voltada à origem da língua inglesa e sua evolução através dos tempos.

O que esse filme nos ensina é que loucura, genialidade e humildade estão de mãos dadas no processo criativo da obra que catalogou e mostrou definições, origens e citações das palavras inglesas em todo o mundo. Assim como um ser vivo, a linguagem é mutável e se adapta aos tempos. Por conseguinte, a língua inglesa (e todas as outras) tendem a evoluir e incluir novas palavras, excluir outras e inserir novos significados a muitas das que existem há muito tempo. Contudo, o que capacitaria um homem a ingressar no grupo que recebeu essa tarefa monumental? No caso de James Murray e William Chester Minor (Sean Penn), os dois têm a loucura e a genialidade ao lado de suas vidas. Ambos são intelectuais de nível incomum, donos de memórias prodigiosas e conhecedores da língua inglesa a fundo. Murray não é um acadêmico, mas detém o conhecimento de diversas línguas, fatos históricos e é um autodidata. Minor é um militar que sofreu agruras durante uma guerra, cujos resultados lhe trouxeram diversas sequelas. Ambos são considerados loucos: o primeiro por querer compor o grupo que fará com que o sonho de um dicionário de inglês se transforme em realidade; o outro, por sua vez, nutre o temor de ser perseguido por alguém que – ao que tudo indica – morreu na guerra.

Minor é preso após cometer um assassinato. As motivações estão atadas ao passado dele na guerra, mas isso pouco importa à família do homem morto. A verdade é que os motivos jamais trarão de volta o marido da jovem Eliza Merrett (Natalie Dormer), agora uma viúva envolta pela dor da perda e pela pobreza que a abraça junto aos filhos.

É nestes três personagens que a trama foca. Murray e sua gana por concluir o dicionário, Minor e um passado que o persegue e, por fim, a bela e sofredora Eliza.

Mas um ótimo filme também traz ótimos coadjuvantes, algo que sobra em O Gênio e o Louco.

Enquanto Murray ingressa no seleto grupo de responsáveis pela organização e criação do dicionário, Minor permanece preso por seu crime. W. C. Minor foi um importante médico de guerra e surge uma oportunidade para que ele mostre seus talentos na medicina dentro do manicômio. A partir desse fato isolado, Minor é visto pelos integrantes da segurança do hospício para criminosos insanos como alguém mais digno de respeito. Um desses homens que passa a ser um escudeiro de Minor é o chefe da segurança Muncie (Eddie Marsan), um indivíduo com princípios morais elevadíssimos e dotado de uma honra fora do comum.

Por sua vez, James Murray não conta apenas com seus auxiliares Henry Bradley (Ioan Gruffudd) e Charles Hall (Jeremy Irvine), como também com o irredutível apoio de sua esposa Ada (Jennifer Ehle), peça-chave na manutenção da sanidade e da perseverança de Murray durante os bons e maus momentos da saga de buscar os significados e a história das palavras. Murray e Minor contam, entretanto, com os ciúmes e o rancor de alguns dos integrantes da comissão responsável por editar o dicionário. Estes homens não veem com tranquilidade a participação de um homem acusado de assassinato na elaboração do dicionário e, por isso, farão de tudo para desmoralizar os dois homens e tirá-los do projeto.

E sabem o que o roteiro quis dizer ao inserir coadjuvantes e personagens de apoio tão fortes? Simplesmente que nenhum grande gênio consegue alcançar seus objetivos só. É preciso o suporte de amigos, família e de outras pessoas que também compreendam aquilo que está sendo elaborado. Mas, definitivamente, nem o mais poderoso e sábio dos homens se mantém sem o auxílio de diversas pessoas que não o abandonam, mesmo diante da mais louca das empreitadas.

Emoções e interpretações fortes.

O que diferencia esse filme da maioria dos que vi nesse e em outros anos é a força da interpretação do elenco. A credibilidade do que é mostrado tem nas interpretações sua base. Há cenas que mostram grande dose de drama, outras com carga emocional forte e momentos de alegria dos mais variados. Em todo esse contexto, destaco os maravilhosos diálogos criados para os personagens de Mel Gibson e Sean Penn.

O roteiro é outro ponto de suporte para as atuações ao evidenciar o drama da viúva, o sofrimento do louco e os obstáculos do obstinado pesquisador. Há, ainda, a firmeza dos colaboradores de Murray, a honra do chefe da guarda do manicômio e o amor indiscutível e irredutível de Ada Murray por seu marido, mesmo nos momentos mais difíceis.

Ao longo da trama nos deparamos com cenas fortes. Algumas têm a força da emoção gerada pelo amor ou pela amizade. Outras têm impacto ao mostrar a dura realidade da loucura e dos tratamentos para esta no final do século XIX. A verdade é que esse filme é uma verdadeira “roda gigante” de emoções tecidas com maestria por um roteiro que poderia tender para o piegas, porém se consagra por ser eficiente e bem redigido.

Os laços que surgem entre os três principais personagens da trama levam o espectador a adotar uma compaixão por eles; isso traz, durante a história, altas doses de sofrimento e alegria, conforme a narrativa se desenvolve.

Tecnicamente, O Gênio e o Louco prima pelo apuro histórico com locações impecáveis e indumentárias convincentes. A reconstituição histórica é perfeita, sobretudo no processo de busca das palavras e nos horrores do manicômio. A trajetória de Murray e Minor também tem grande apuro histórico com um pouco da liberdade poética que a narrativa pede.

Com uma história forte, um debate interessantíssimo sobre erros e perdão, além de um questionamento pertinente sobre o que é loucura e o que é genialidade, garanto aos leitores que este é um filme capaz de concorrer ao Oscar por suas interpretações fortes e emocionantes que comprovam o porquê do cinema ser chamado de Sétima Arte. Impecável…

Sobre o Dicionário de Oxford e sua história atual…

Seu primeiro volume foi publicado em 1884 e o último em 1928. Ainda hoje, o Oxford English Dictionary (OED) se mantém como o dicionário mais utilizado para pesquisa acadêmica na língua inglesa. O OED tem em seu conteúdo milhões de exemplos, mostrando como palavras são utilizadas com o passar do tempo e como elas se relacionam entre si. Além disso, nosso dicionário mapeia o desenvolvimento de diversas variedades de inglês ao redor do mundo.
Oxford University Press (OUP) segue coletando evidências de como o idioma é usado, mas de uma forma mais moderna. Utiliza-se de diversos bancos
de dados – conhecido como corpora – que são atualizados, constantemente, com textos vindos da internet e de outras fontes digitais. Os bancos de dados servem de base para vastas possibilidades de linguagem oral e escrita e mostram resultados em um curtíssimo espaço de tempo, o que faz com que novas palavras e significados sejam identificados, assim que apareçam.
A OUP publica dicionários há mais de 150 anos, mas, ainda assim, continua a inovar com ferramentas e serviços, lançados sempre que há o surgimento de novas tecnologias. Nós criamos conteúdo para todos os públicos – estudantes, profissionais, escritores, professores, pesquisadores, empresas de tecnologia e desenvolvedores de softwares. Nosso conteúdo não está somente no papel, você também pode acessá-lo on-line e pelo celular.
Os dicionários da OUP são reconhecidos mundialmente por sua abrangência e relevância. No Brasil, o Dicionário Oxford Escolar para estudantes brasileiros é referência para estudantes de língua inglesa, tendo mais de 1 milhão de cópias vendidas desde o seu lançamento. Com mais de 69.000 termos, traz o sistema exclusivo de sinalização das 3.000 palavras mais usadas na língua inglesa, ajudando o aluno de inglês no seu processo de aprendizado.
Para saber mais sobre o OED e outros dicionários Oxford, acesse: www.oxforddictionaries.com/our-story/history
Para saber mais sobre dicionários para estudantes de língua inglesa, acesse: www.oxfordlearnersdictionaries.com

Sobre a Oxford University Press

Como um departamento da Universidade de Oxford, a Oxford University Press (OUP) compartilha dos objetivos da Universidade, no tocante à pesquisa e educação, através das suas publicações no mundo. OUP é a maior editora universitária do mundo e com a maior presença global. Publica milhares de títulos por ano e possui escritórios em mais de 50 países, empregando aproximadamente 6.000 pessoas.
A OUP é conhecida da população em geral, através de suas publicações em diversas áreas, como trabalhos acadêmicos, bíblias, partituras musicais, livros didáticos em todas as disciplinas, livros para o ensino de inglês como língua estrangeira, livros para negócios, matérias de referência, publicações acadêmicas e dicionários.

Sobre o livro de Simon Winchester.

Sinopse: No século XVIII, época de descobertas científicas e de expansão dos ideais iluministas, a Inglaterra encontrava-se extremamente atrasada nos estudos da própria língua. Enquanto França, Itália e Alemanha já possuíam livros e instituições dedicados à filologia, autores como Daniel Defoe e Jonathan Swift eram obrigados a se virar sem um dicionário que fixasse a língua inglesa. Obras como o maravilhoso A dictionary of the English language (1755), de Samuel Johnson, vieram suprir a falta prolongada desde os tempos de Shakespeare, que no século XVI teve de escrever suas peças sem um único livro ao qual pudesse recorrer para consultar a grafia ou o significado de uma palavra. Mas foi apenas no ano de 1857, em plena era vitoriana, que a ideia de um dicionário que abrangesse a língua inglesa como um todo, desde a preposição mais corriqueira até o substantivo mais longo e obscuro, veio à tona. Partindo de alguns preceitos já usados por Johnson, o New English Dictionary – futuro Oxford English Dictionary – usaria citações (literárias ou não) para ilustrar o sentido, a origem e as mudanças sofridas ao longo do tempo no significado de todas as palavras anglo-saxônicas. O uso de voluntários para empreender tamanho projeto foi uma iniciativa necessária e inovadora em sua época, e foi também o que permitiu o encontro de duas figuras fascinantes: o filólogo autodidata James Murray, irlandês de origem humilde, que dedicou quarenta anos à edição do OED, e o americano de família rica e tradicional, William Chester Minor, médico promissor e dedicado que teve de passar a maior parte da vida entre os muros de um hospital psiquiátrico e de lá foi um dos colaboradores mais profícuos e eruditos do dicionário. Com uma prosa simples e apaixonada, de quem descobre com o leitor a profusão de histórias que existe por trás dos setenta anos da elaboração do OED, Simon Winchester mergulha na vida desses dois personagens profundamente ligados àquele que é um dos maiores e mais importantes dicionários de todos os tempos.

 

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