A Múmia (2017). Qual o passado por trás do #DarkUniverse e o que o futuro reserva?

A Múmia (2017) ainda traz lembranças da trilogia (também da Universal), onde Brendan Fraser era um arqueólogo e aventureiro que se envolvia com múmias. Esses três filmes tinham um tom muito bem humorado, além de ótimos efeitos especiais e maquiagem. As atuações foram boas nos primeiros dois filmes, mas a fórmula não deu certo no terceiro.

Então, 18 anos após o primeiro A Múmia, surge agora uma nova criatura no filme que conta com  o astro Tom Cruise como destaque. Antes de analisarmos os pormenores dessa nova empreitada, que tal descobrirmos o que há por trás desse novo Dark Universe da Universal Pictures?

Monstros.

O fascínio dos monstros é algo indiscutível. Não acredita? Ok, vamos às provas. Centenas de milhões de espectadores já assistiram produções onde os protagonistas são monstros. Desde o líder de adaptações Drácula até os mais recentes zumbis, todos eles prendem a atenção e atraem a curiosidade do público. As influências são tão grandes que extrapolaram a literatura e o cinema e já fazem parte de podcasts, quadrinhos, teatro, séries e games. Todos amam sentir medo, quer admitam ou não.

O cinema, especificamente, é repleto de criaturas assustadoras que renderam somas incalculáveis aos estúdios. Franquias como Aliens, a Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13 são milionárias e marcaram uma geração. Séries do porte de Além da Imaginação, American Horror Story e The Walking Dead são exemplos da força atrativa dos monstros e do sobrenatural.

Mas o que aconteceria se reuníssemos essas criaturas? Certamente o apelo seria ainda maior. Tais reuniões já aconteceram em clips (Thriller, com Michael Jackson e Everybody com os Backstreet Boys), animações como Hotel Transylvania e a Festa do Monstro Maluco, filmes também promoveram esses encontros como Goosebumps, Deu a Louca nos Monstros, A Liga Extraordinária, isso sem falar nas séries entra as quais se destaca Penny Dreadful.  São muitas obras inspiradas na “reunião” dos monstros clássicos da universal que, obviamente, bebeu na mais prolífica das fontes: a literatura.

O que é o Dark Universe?

A resposta é bem simples, porém exigirá muito do estúdio para que dê certo. Trata-se de uma série de filmes cujos personagens principais são os monstros que fizeram sucesso em várias épocas. Entre eles já estão confirmados o Homem Invisível, Frankenstein, a Criatura do Lago Negro, Lobisomem, Dr. Jekill e Mr. Hyde, a noiva de Frankenstein e Van Helsing. Estranhamente não há notícias de um novo filme sobre o Drácula, algo até compreensível diante da recepção fria do público e crítica diante de Drácula – a historia não contada.

Aparentemente essas criaturas irão se reunir em um longa-metragem para concretizar o ressurgimento desses personagens que deram fama à Universal Studios no passado. Essa é uma iniciativa bastante complexa, pois é preciso mostrar algo já visto várias vezes com o acréscimo de uma ótima narrativa e roteiros consistentes. Cabe lembrar que se trata de um “universo expandido” e isso implica em dizer que os roteiros devem estar amarrados um ao outro. Mais do que isso, os filmes devem permanecer coerentes em suas narrativas interligadas, o que exigirá mais esforço por parte da equipe criativa, diretores e roteiristas.

E por que começar esse universo justamente com a Múmia? Simplesmente porque os filmes mais recentes de monstros não obtiveram o retorno esperado pelo estúdio. Além do mais, a franquia de A Múmia foi um sucesso e arrecadou mais de 1,2 bilhão de dólares no total. Logo, o potencial de arrecadação de um filme com o monstro à frente é muito grande e vale o investimento. Isso sem contar com o elenco estelar que conta com Tom Cruise, Russel Crowe, Annabelle Wallis, Sofia Boutella, entre outros.

O único ponto complexo nessa empreitada está no distanciamento entre um filme e outro. O próximo longa-metragem do Dark Universe está previsto apenas para fevereiro de 2019.

Agora, vamos à análise do filme que abre esse universo expandido… com SPOILERS!!!!

O Início.

A história é boa e destaca o passado de Ahmanet (Sofia Boutella), uma princesa egípcia destinada a assumir o controle do Egito após a morte do faraó. Tudo isso muda quando seu pai tem um filho com uma mulher e essa criança passa a ser a sucessora do trono. Com a alma tomada pelo ódio, a bela princesa faz um pacto com Set, o deus da morte, e inicia um massacre que tira as vidas do próprio pai, do meio-irmão e de outros. Antes que seu pacto possa ser concluído, a princesa é presa e condenada a ser mumificada viva.

Séculos depois uma dupla de saqueadores, Nick Morton (Tom Cruise) e Chris Vail (Jake Johnson) estão em uma região do Iraque onde buscam por relíquias para vender no mercado negro. Apesar de militares, eles não se importam em quebrar alguns protocolos para conseguir as fortunas que acham estar na cidade onde se encontram. O resultado é uma troca de tiros no qual os dois quase perdem a vida, mas nem tudo foi perdido. Encerrado o combate, uma enorme cratera revela uma tumba egípcia, algo impensável, dada a distância entre o egito e o Iraque. Lá, após a persistência de Nick, eles retiram um sarcófago cujo conteúdo é, obviamente, o corpo mumificado de Ahmanet. Chris é picado por um inseto que o infecta, ainda que ele não perceba.

O interessante da descoberta do sarcófago ficou por conta do engenhoso tanque imerso em mercúrio, protegido por imagens de guardiões.

O que se segue é a remoção do sarcófago em um avião Hércules C-130. Nele os poderes da Múmia se manifestam através de uma tempestade de areia e também pelo domínio de Chris que se torna uma arma na mão dela. Até esse momento, a imagem de Ahmanet mumificada não surgiu. Entretanto os resultados não poderiam ser piores: Chris entra em confronto com os soldados no avião e é morto pelo seu melhor amigo. A seguir acontece a queda do avião, atacado por uma praga de aves (remetendo às pragas de Os Dez Mandamentos). Essa cena é impressionante pelo uso de Gravidade Zero. Foi preciso muita destreza e coragem para compor essas cenas incríveis que ganharam força ao assistir o filme na sala 4DX do UCI no Rio de Janeiro. Aliás, minha experiência foi extremamente amplificada por causa da sala de cinema interativa. Ver o filme e participar da ação é algo único, mas isso será comentado em outro post.

A iniciativa Prodigium.

Após a queda do avião, Nick sobrevive. Essa passagem me incomodou um pouco pela falta de zelo da produção. Afinal, é quase regra que em acidentes do porte daquele mostrado no filme, pouco reste dos que estavam na aeronave. Até não me importo com a preservação do personagem de Tom Cruise, pois isto faz parte da premissa da história, mas jamais os demais passageiros poderiam estar intactos diante de tão grande impacto. O próprio avião teve seus pedaços espalhados por uma grande área… imaginem um corpo humano que é frágil demais.

Então, a partir deste trecho Nick é “perseguido” por seu amigo Chris. A mando de Ahmanet, Chris serve como um guia que levará o escolhido da egípcia até ela para que seu pacto com Set seja concluído. Neste ponto há várias cenas muito interessantes (desde a convocação de novos “seguidores” até a reestruturação do corpo dela) e a ação é incessante e culmina com a captura da Múmia. Nesse ponto algumas pessoas questionaram a rapidez com que ela foi presa, porém é válido lembrar que se trata de um grupo que detém o conhecimento para isso. Estamos falando do Prodigium, uma agência secreta que tem como líder ninguém menos que o doutor Henry Jekyll (Russel Crowe). Jekyll aparece no início do filme de forma até imponente, mas é só a partir deste ponto que ele mostra seu papel na narrativa.

A mocinha.

Jenny (Annabelle Wallis) surge quase que junto com Nick e Chris na trama. Ela é uma arqueóloga e há um vínculo amoroso com Nick. Ela é muito usada na história e se encaixa bem como a mulher frágil. Não entendam isso como algo machista, apenas quero evidenciar que sua “dependência” do auxílio de Nick foi lançada no roteiro para enganar o espectador. Mesmo não tendo a força física do protagonista, Jenny é inteligente, decidida e esconde muito mais do que aparenta, incluindo sua colaboração com o Prodigium.

Há boatos de que ela possa ser a versão Van Helsing do Dark Universe, principalmente se levarmos em conta a quantidade de troféus presentes nas dependências do Prodigium, incluindo a mão da criatura do Lago Negro, o crânio de um vampiro e outros. Seja como for, eu creio que Jenny será muito mais do que uma mocinha em perigo. O final do filme comprova que sua importância é muito maior.

Horror ou humor?

Não posso negar que fui ao cinema esperando ver mais terror do que ação. Basta que lembremos o quanto de humor já tivemos com a trilogia A Múmia que teve Brendan Fraser à frente dos filmes. Até compreendo a necessidade da Universal em usar alguns recursos como Chris (alívio cômico) e um direcionamento mais para a ação do que o suspense o terror, pois os filmes anteriores renderam fortunas com essa fórmula. Contudo é vital lembrar que maldições e seres que vivem da morte de outros não podem estar vinculados ao humor. É hora de termos um Universo Sombrio real, onde criaturas alucinadas (Frankenstein, o Homem Invisível) choquem e comovam por suas dores e dramas. É preciso assumir o compromisso de promover o medo que marcou astros como Boris Karloff (A Múmia) e Bela Lugosi (Dracula) como monstros no cinema. Eu torço por um filme com ação e até um pouco de humor, mas é imprescindível que o Dark Universe seja realmente Dark.

Caso a intenção da Universal seja realmente dar sequência aos fatos que iniciaram em A Múmia e retome o prestígio de anos passados com essas criaturas sombrias, atormentadas e malignas, precisará ter a coragem de se entregar realmente à escuridão que já achamos em Penny Dreadful e outras produções do gênero.

A nova Múmia convence?

Sim, convence não só por conta dos efeitos especiais inacreditáveis, como também por causa da ótima atuação de Sofia Boutella. A atriz é linda, ágil e consegue convencer como a mulher que se deixa seduzir pelo poder. Mais do que uma criatura amaldiçoada, Ahmanet é má em sua essência, algo bem visível nas cenas onde Sofia dá vida à personagem. Destaque também para a rápida passagem de Javier Botet (Mama, Rec, Invocação do Mal 2) que interpreta o deus da morte, Set.

Final condizente?

Sim, apesar dos pormenores apontados que diminuíram um pouco do impacto narrativo, A Múmia teve sua história conduzida de forma bem interessante. Como já dito, a presença de Jenny é importantíssima para chegarmos ao clímax do filme, assim como a reviravolta ficou bem interessante e dá margens para uma sequência. Entretanto são poucas as “deixas” para os outros filmes relacionados com o Dark Universe, o que pode significar que a teoria de um encontro entre os monstros possa estar descartada ou que essas interligações serão mais fortes a partir dos próximos filmes.

Uma coisa fica bem clara com o fim do filme: há mais monstros e deuses do que poderíamos imaginar nesse novo “universo sombrio”. E isso é bom…

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