Mulher-Maravilha – a DC retoma a credibilidade brilhantemente.

Mulher-Maravilha é um filme que teve sua estreia aguardada com grande ansiedade. Os motivos? Em parte isso se deveu ao temor de termos filmes similares ao que vimos em Batman v Superman e Esquadrão Suicida. Entendam, eu gosto muito desses filmes, mas o grande público, provavelmente influenciado por mídias e redes sociais, não apreciou as obras.

Vamos acrescentar a esse caldeirão outro ingrediente. A Mulher-Maravilha é uma coadjuvante de luxo em Batman v Superman. Será, questionaram alguns, que ela se sustentaria em um filme solo?
Então, chega o dia para assistir o longa-metragem. A tensão está no ar, pois sempre há o temor de influências externas (brinquedos, idade do público, excesso de humor, licenças para outros produtos) modifiquem aquilo que a diretora queria. Isso, definitivamente, não ocorreu com Mulher-Maravilha.
Outro fator que deixou o público receoso foi a divulgação massiva através de trailers, redes sociais e uma infinidade de outros meios. Grandes filmes decepcionaram por causa das surpresas estragas por trailers, pôsteres animados e estáticos, algumas cenas de bastidores e até notícias que vazaram. Isso, definitivamente, não ocorreu com Mulher-Maravilha.
Então, já mais relaxados, espero que curtam essa resenha. Evitarei ao máximo qualquer spoiler e, caso haja, sinalizarei primeiro.

Antes, um breve trailer para sua apreciação…

Presente inesperado.

A narrativa começa no presente. Lá, Diana recebe um presente inesperado de um amigo muito querido. De posse desse presente, ela começa a ter devaneios sobre seu longínquo passado. É nesse tempo, já perdido, que acompanharemos as aventuras da princesa amazona e saberemos mais sobre seu passado apenas citado em Batman v Superman.

Ilha Paraíso.

Themyscira não é chamada de ilha Paraíso, mas é inegável que ela é. Um lugar lindo, repleto de belas e fortes mulheres que treinam e convivem de forma harmoniosa. Elas são cultas, inteligentes, fortes e disciplinadas como um espartano. Não há fatores externos que atrapalhem essa paz.
Em meio a esse cenário, conhecemos a pequenina princesa Diana. Ela tem o espírito combativo de uma guerreira, algo notado e temido por sua mãe, a rainha Hipólita.
Diana tem potencial e quer ser muito mais que uma simples princesa, porém Hipólita usa de todas as suas forças para impedir que ela cresça guerreira.

Destino.

Há situações que lutamos para não viver. O que não contamos é com a intervenção do destino, sempre indiferente aos nossos desejos. Esse mesmo destino põe a carismática Diana no caminho de Steve Trevor. Steve é o primeiro homem que ela vê, porém isso dura pouco. Invasores vêm em busca do piloto e uma pequena batalha se inicia com perdas para ambos os lados. Uma pequena parcela da força das Amazonas é demonstrado…
Ao contrário do que muitos aguardavam, o filme não é sobre a origem da Mulher-Maravilha. Na verdade, o ponto principal da trama está nos motivos que a levaram a ingressar em uma guerra que não é dela. Até onde ela iria para que a justiça ocorra?

Peças de guerra.

A diretora Patty Jenkis foi extremamente feliz ao mostrar em minúcias as principais armas de Diana. Desde o laço até os braceletes, tudo foi apresentado sem nada a dramatizar. Mais do que isso, todos as peças do uniforme são usadas em ação. Emoção garantida ao descobrirem o motivo para ela usar a tiara.

Primeira Grande Guerra.

Diana chega a Londres ao lado de Steve. Os dois proporcionam momentos alternados de humor (como a adaptação à realidade da metrópole até ao uso de roupas adequadas) indo a uma tensa reunião onde nem mesmo as palavras da guerreira são respeitadas. Há a fé no fim da guerra, todavia Steve presenciou a criação de uma arma química poderosa e, ainda que sua criadora esteja sem a fórmula, nada a impede de produzir outro armamento químico. Junto a ele nos deparamos com um nazista que crê na vitória incontestável. Os dois renderão momentos de violência gratuita, proporcionada pelo poder que ambos têm, mas as interpretações e participações dos atores (Danny Huston e Elena Anaya) são boas.
Nota: por favor, não busque em lugar nenhum sobre quem interpreta os personagens, já que a melhor surpresa fica por conta do investimento em uma boa revelação quase ao final do longa.


As atuações e a caracterização mostram militares e civis convincentes. Trânsito caótico e miséria convivendo com gente próspera e luxo. Apesar das negativas dos líderes militares, a dupla parte para o front. Antes, claro, é preciso reforçar esse time. Esse recrutamento serve para dar certo alívio cômico ao filme, o que não dissipa a busca dela pelo deus da guerra, Ares.
Por falar em Ares, preciso evidenciar que algumas das mais belas cenas do filme estão na narração da criação das Amazonas por Zeus, assim como sua luta final contra o poderoso Ares. Há passagens que me trouxeram à mente pinturas como as de Caravaggio e Tintoretto. Simplesmente inacreditáveis. Outra impressão bem nítida é a de que o leito de Diana, ainda menina, seja inspirado na pintura “O nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli.


Temores e sacrifícios.

O medo da perpetuação do mal permeia o script. Há algo no ar que parece incentivar a continuidade das mortes na guerra. Ares ou apenas o mal contido na alma humana? Essa dúvida perseguirá o espectador por boa parte da trama.
Diante da malignidade das pessoas que ferem seus semelhantes e os direcionam à morte sem quaisquer pudores, Diana percebe que ela é a chave para o fim de um conflito que nunca deveria ter ocorrido, mas já está incrustado na História humana. Ela sabe que não será fácil. Ela sabe que haverá obstáculos até mais poderosos que ela, só que isso não importa. A falha de seu grupo será o fator preponderante para um ato de extrema crueldade e covardia, capaz de exterminar milhares em segundos. Não há mais como recuar…

Roteiro competente ou direção correta?

Os dois, já respondo. O roteiro conjunto de Geoff Johns (Batman – Terra Um, The Flash, Sociedade de Justiça da América) e Allan Heinberg (Young Avengers) ambos já envolvidos no universo dos quadrinhos foi fundamental para termos algo com o qual os fãs sonhavam. Quando somamos isso à direção segura de Patty Jenkins, temos o resultado que foi unânime entre fãs e novos espectadores: o filme é ótimo!

Podem se preparar para encontrar uma heroína humanizada e tão poderosa quanto a vista nos quadrinhos.

Vilões.

A presença de vilões normais, pessoas desprovidas de caráter e compaixão é uma inclusão perfeita no filme. Entretanto, além da presença sempre velada de Ares, os roteiristas foram primorosos ao evidenciar que o maior mal feito à humanidade partiu de seres humanos comuns. Em Mulher-Maravilha os vilões são motivados por ódio, vingança e pela manutenção do poder, porém é visível que o mal maior está em nós, humanos, seres cujas vaidades e descontrole levam à morte de milhões.

Um outro referencial sobre a maldade do ser humano está no sempre criticado e covarde uso de guerra química, responsável por inúmeras mortes na história.

Referências.

Desde cenas que lembram a Mulher-Maravilha de Alex Ross, passando por uma Themyscira próxima a que vimos nos traços de George Perez, o filme mostra que bebeu em fontes confiáveis sobre a heroína. A presença de relatos sobre os deuses e até a própria origem de Diana são outras evidências de que a produção foi conduzida por quem buscou conhecer melhor a personagem em sua origem: os quadrinhos. A cena de combate entre as Amazonas e os nazistas tem clara inspiração na capa da edição número 1, como podem ver abaixo.

 

Conclusões.

A escolha de um elenco muito competente, aliado ao ótimo roteiro e à direção surpreendente de Patty Jenkins seriam por si só garantias de que vocês assistirão a um excelente filme. Entretanto há muito mais: locações incríveis, reconstituição histórica digna (incluindo os comportamentos da época), cenas de guerra fortes, uma linda atriz mirim que faz Diana menina, efeitos especiais impressionantes, coreografias corretas e uma aparente harmonia entre o elenco. Mais do que efeitos especiais, Mulher-Maravilha traz belas lições sobre amizade, sacrifício e justiça. Aquela que começou como coadjuvante no universo cinematográfico da DC é, hoje, uma peça-chave e importantíssima.

A ótima obra cinematográfica trouxe ânimo e fôlego aos futuros filmes da DC, mas também será usado como referência nessas mesmas produções.

Enfim, saia do sofá e vá para a sala de cinema. Garanta sua pipoca e fique atento a cada detalhe dessa memorável obra inspirada (e muito fiel) em ideias que vieram dos quadrinhos e comprovam que é possível sim ter algo sensacional quando a voz de quem entende do assunto é ouvida.

E que venha Mulher-Maravilha 2!

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