Jogos Mortais: Jigsaw. Um bom filme de uma franquia desgastada. Que os jogos terminem!

Ok. Falar de Jogos Mortais é chover no molhado. Praticamente todos já viram ou ouviram falar da franquia, principalmente por causa do primeiro filme que marcou pela violência, roteiro inteligente e cenas impactantes. Mas é preciso ser honesto. Os demais filmes da série não foram tão bons e, como em todas as franquias que se estendem demais, a fórmula acabou desgastada, tal como ocorreu com Sexta-feira 13, A hora do pesadelo, Velozes e Furiosos e outras produções que insistem em arrancar dinheiro do espectador.

Vamos ver o trailer antes de prosseguir?

A primeira impressão que temos ao assistir Jogos Mortais: Jigsaw é a de que há algo errado. A retomada da trama envolvendo o assassino serial morto há uma década causa estranheza, assim como vimos em outros episódios. A surpresa fica por conta do desenvolvimento desse retorno que, por mais que eu desconfiasse, ficou bem estruturado (porém não trouxe nada de surpreendente).

A trama se passa dez anos após a confirmação da morte de Jigsaw, nome dado ao assassino John Kramer (Tobin Bell), um engenheiro astuto e vingativo cuja principal motivação é penalizar pessoas que para ele são culpadas por seus erros. Ao contrário dos tradicionais assassinos em série, Kramer não mata “inocentes” e esse é um dos atrativos e motivo para que seja considerado não um matador, mas um predador ou justiceiro.

O enredo.

Uma nova onda de mortes é desencadeada e, mesmo após tanto tempo da morte de John Kramer, indícios apontam para uma possível volta de Jigsaw às práticas de tortura, sadismo e morte que lhe eram comuns. Em uma corrida desenfreada contra o tempo, o detetive Halloran (Callum Keith Rennie) se une ao doutor Logan Nelson (Matt Passmore) para que as peças e pistas enviadas pelo assassino sejam decodificadas e os levem até Kramer ou o copycat que o está imitando.

A primeira cena já causa mal-estar ao nos apresentar a cinco pessoas desconhecidas. Elas estão com suas cabeças presas em baldes e logo se dão conta de que não há como fugir. Assim, rapidamente surge a voz de John Kramer lhes dizendo que a verdade e uma prova de sangue serão suficientes para libertá-los. Presos a correntes, essas pessoas são arrastadas de encontro a lâminas giratórias. Agora, com os jogos iniciados, ou cumprem à risca o que Kramer lhes ordenou ou serão mortos pelas engenhosas armadilhas criadas por ele.

O filme transcorre cheio de tensão enquanto o policial e sua equipe, auxiliados pelo doutor Logan, tentam achar o suposto Jigsaw e impedir que mais corpos surjam. A cada morte de um dos cinco cativos, uma nova pista aproxima os investigadores do verdadeiro matador.

Coadjuvantes.

As interpretações não são marcantes e não há justificativas para isso. Apesar de ser um filme de “terror”, preciso lembrar que outras obras envolvendo serial killers, assassinos ou torturadores já provocaram muita agonia no público por conta de atuações marcantes. Só para citar, lembro que muitos ainda se lembram do desespero de Morgan Freeman e Brad Pitt no final de Seven. Ou a agonia da agente Clarice (Jodie Foster) no clássico absoluto O Silêncio dos Inocentes. Assim, fiquei incomodado por conta de algumas atuações previsíveis (entre elas a ajudante do médico legista, interpretada pela atriz Hannah Anderson que só pelo olhar já entregou ser mais do que aparenta) que são frutos de uma direção mediana por parte dos irmãos Michael Spierig e  Peter Spierig.

Uma breve entrevista com Tobin Bell, o Jigsaw:

Interligação de filmes.

Ao voltarmos à análise do filme, lembrei de alguns pontos curiosos e que são destaque nesse oitavo longa da franquia. Entre eles está a interligação dos filmes. Mesmo de forma confusa, a franquia tentou manter uma linha narrativa coerente. Em alguns casos, infelizmente, não obteve sucesso como gostaríamos.

O oitavo filme é uma tentativa óbvia de retomada da história de John Kramer e seus seguidores. Ao brincar com o interesse da pessoa comum por como Kramer, os roteiristas Josh Stolberg e Pete Goldfinger destacam a sedução que o mal pode provocar. Algo muito próximo de uma “síndrome de Estocolmo” ou mesmo um prazer pelo mórbido.

Contudo a interligação deste com seus sete filmes antecessores não está muito coerente. O próprio comportamento de Kramer me pareceu – em uma parte específica do longa-metragem – atípica. A impressão é a de que a retomada das narrativas sobre o assassino são uma tentativa de alavancar a franquia, cativar o público mais novo e buscar um sucesso tão grandioso quanto o primeiro filme, algo impossível.

A história não é ruim e poderia render muito mais. O que atrapalha é a forma como as reviravoltas são apresentadas, sempre de forma rápida demais. Não há o suspense e o medo que encontramos no primeiro filme, isso sem falar de atitudes incoerentes com o modus operandi de Kramer.

Censura.

O filme é bem violento e mostra cenas muito chocantes. As armadilhas impressionam e garantem a continuidade da engenhosidade do matador. Isso, entretanto, não mantém o filme por si só, ainda que ele tenha sido bem melhor que os três filmes anteriores.

Um porém precisa ser acrescentado: a censura – no Brasil – de 18 anos limitará muito o público e, consequentemente, o sucesso do filme será menor em matéria de arrecadação. Essa censura se deve às cenas gore muito detalhadas (o que não significa que haja alguma novidade quando o assunto é sangue e carne no cinema).

Que os jogos terminem.

Apesar de ser um entretenimento bacana, este novo filme da franquia não traz algo tão surpreendente quanto o primeiro filme. A engenhosidade do enredo do início da história de Jigsaw se perdeu ao longo dos filmes (muitos apenas destinados a arrecadar) e nem mesmo as cenas mais nojentas com decapitações e cortes profundos parecem impressionar um público que já viu isso literalmente milhares de vezes.

Vamos considerar apenas os três primeiros filmes e lembrar aos produtores que o título Capítulo Final do sétimo longa-metragem deveria encerrar a saga de Kramer e seus seguidores. Prosseguir por mais 253 mil continuações é um desrespeito com a obra original e, sobretudo, com o espectador.

É a hora de ouvir John Kramer dizer “Que os jogos terminem!”.

 

 

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