Crítica: O Touro Ferdinando

O Touro Ferdinando é outra bola dentro na conta do brasileiro Carlos Saldanha (responsável por A Era do Gelo e Rio). Dessa vez, o destaque é a Espanha, fazendo um giro por várias cidades, mostrando as suas belezas e suas culturas. No quesito técnico, é uma animação excelente. Assim como nos demais trabalhos do estúdio BlueSky, o foco são traços cartunescos, simpáticos, agradáveis ao nosso olhar. No quesito qualidade, assim como Shrek, Toy Story, Divertidamente, os realizadores conseguiram novamente dosar a diversão para adultos e crianças, cada um sendo atingido de uma forma diferente. Tem aquelas piadas e indiretas que só os mais crescidos fisicamente vão entender e partes mais ingênuas, lúdicas e animadas que a criançada adora. Um acerto gigantesco, do tamanho do touro.

Apesar de não ser o foco principal do filme, temos aqui um tema tratado com sutileza, mas que deixa bem claro o seu significado: a morte! Tema este que historicamente nem é tratado como tabu em filmes infantis – basta se lembrar de clássicos como Bambi e O Rei Leão – mas não deixa de ser algo delicado de se lidar. Ainda mais neste caso, que mostra que a morte de touros não é natural. O sacrifício dos animais nas famosas touradas na Espanha é apenas um “esporte”, apenas para virarem troféus de chifres na parede ou fotos do quão grandes eram os bichos antes de serem vencidos pelos toureiros (com todo o respeito aos que gostam, mas me recuso a chamar uma matança gratuita de animais como esporte. A não ser que você torça para o touro).

Outra mensagem “forte” no filme é a questão da luta pelo mais forte, que acaba sendo um misto de competição e luta pela sobrevivência, e o que acontece para os que não conseguem ser o primeiro ou o mais apto. Infelizmente é uma analogia que acaba tendo o seu fundo de verdade neste mundo competitivo e capitalista. Mas, assim como na vida real, existe uma mensagem de esperança, amizade, companheirismo, aceitação, família, superação (com direito a dar 110% – entendedores entenderão) e de amor à vida.

O Touro Ferdinando, enorme em tamanho e em coração, tem tudo para agradar a todos. Incrível como conseguiram fazer uma animação que transpasse para a tela toda a mansidão, meiguice e simpatia do touro, muitas vezes visto como um monstro, um reprodutor ou um animal utilizado quase que unicamente para a prática deste “esporte” Dos demais personagens secundários, a cabra Lupe é o alívio cômico do filme, com ótimas sacadas e os ouriços Um, Dois e Quatro são fofinhos, mas no fundo são aquelas criaturinhas coloridas criadas para serem vendidas como bonecos e demais brinquedos, gerando aquele lucro extra para o estúdio. Ah, se você odiou em Pets um coelho dirigindo um ônibus, saiba que aqui vai ter algo do tipo. Por favor, relevem. É uma animação infantil, né?

É bem interessante o fato de terem criado touros de diferentes tamanhos e formas, para deixar claro a diversidade. Essa mensagem do que é ser comum, o que é estar no padrão, o que é aceitável, descartável, esquisito ou normal, e que no fundo somos todos iguais é transmitida de forma muito competente. Extremamente importante que estes filmes “infantis” venham com estes valores morais.

Por último, infelizmente ainda não chegamos comercialmente neste ponto de tecnologia. Mas que bom seria se o “3D”, ao invés do visual (que não acrescenta em NADA), oferecesse a “terceira dimensão” de forma olfativa. Com tantas flores na tela, seria uma experiência fantástica assistir ao filme sentindo o perfume das rosas.

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