Crítica: Inseparáveis (2017) | Um remake Argentino desnecessário. Será?

Refilmagens eram, são e sempre serão um tópico questionável entre os internautas. Não é à toa que nos últimos anos tem surgido literalmente uma “penca” de remakes que nos levam às seguintes discussões: será que é realmente preciso fazê-las? De onde vem a liberdade dos cineastas ao decidirem tal feito? São perguntas como estas que dependem bastante do contexto para dizer a resposta. Neste caso, o filme francês ‘Intocáveis’ (‘Untouchables’), de Olivier Nakache e Eric Toledano, é a vítima da vez. O longa, que fez o maior sucesso em 2012, ganhou uma versão hispano-argentina, que acaba de ser lançada nos cinemas de todo o Brasil. Dirigido por Marcos Carnevale, o filme é praticamente o mesmo, pois contém ambos conceito e ambiente iguais, apenas utilizando atores diferentes. Enão venha saber mais sobre ‘Inseparáveis’, bem como se esta controversa obra se encontra no quadro de remake “necessário x dispensável”.

Na trama, Felipe é um rico empresário que ficou tetraplégico em um acidente e está procurando por um assistente. Existem vários qualificados, mas ele decide levar o auxiliar de seu jardineiro, Tito, que não reúne todas as condições para o cargo, como notam pessoas mais próximas a Felipe, como Verônica e Ivonne, sua governanta. No entanto, Felipe permanece firme na sua decisão, pois Tito é a única pessoa em muito tempo, que não o trata com compaixão. Com uma história pra lá de magnífica, o original fez jus em arrancar elogios por parte da imprensa e do público. Entretanto, apesar de muitos terem adorado a ideia de nossos hermanos em apresentar a mesma história do ponto de vista de sua cultura, outros ficaram com um pé atrás apenas vendo o trailer, que já insinuava tanto típicas semelhanças quanto pequenas alterações. Contudo, a dúvida que fica é até quando isso vai durar. Afinal, o que impede cada país de realizar as suas versões de filmes cuja obra original na maioria das vezes é melhor, não é?

Não querendo entrar em questões raciais, mas, por razões que ainda desconheço, Marcos Carnevale resolveu escalar o papel de Tito a um ator branco, ao invés de simplesmente manter o personagem em um ator negro. Qual a graça e onde fica a fidelidade nisso? Não é de surpreender ninguém que se o povo já cismou logo que divulgaram a primeira foto do remake americano com Bryan Cranston e Kevin Hart. Em razão disso, cerca de 5 anos após o original, o longa pegou todos de surpresa. Conquanto, não tenho nada contra ele, longe disso. A questão é que ‘Untouchables’ não foi o filme certo a ser feito. Partindo da minha visão, não compensou fazer a refilmagem do longa em si, só porque ele foi o maior sucesso há anos atrás. Existem tantos projetos que poderiam ter sido escolhidos, vale ressaltar o quanto ele foi o menor dos problemas no quesito preciosidade. Afinal de contas, ainda bem que ainda não cogitaram a ideia de refilmar clássicos excepcionais, tais como ‘O Poderoso Chefão’, ‘Os Imperdoáveis’ e por que não, ‘Os Intocáveis’?

Falando um pouco do elenco, o mesmo está aplausível em cena, desempenhando bem as suas performances – em particular Alejandra Flechner como a empregada Ivonne, que junto com o protagonista Tito, incorporado por Rodrigo De la Serna, gera bons momentos engraçados no decorrer de sua duração, em torno de 1 hora e 50 minutos. Contracenando com outro personagem de maior relevância na trama, temos ainda Carla Peterson, no papel de Verônica (Magalie, que no original pertencia a Audrey Flerot), rendendo também cômicos instantes. Já Oscar Martínez não me convenceu muito na pele de Philippe. O ator infelizmente não possui o carisma de François Cluzet, sendo mediano. Do mesmo modo, a despeito das atuações variarem entre boas a regulares, a trilha sonora foi admissível, pelo menos aquelas faixas de Tango, que são deveras boas de ouvir e impossíveis de não se encantar com o seu ritmo.

Em contrapartida, em meio a elogios e aspectos negativos, ‘Inseparáveis’ atingirá o seu público-alvo sem o menor dos problemas. Embora a minha visão permaneça a mesma com relação à concordância, não afirmo que deixo de apreciar os filmes hispano argentinos, até porque gosto de alguns, em particular a comédia ‘Relatos Selvagens’ e o emocionante ‘Não Aceitamos Devoluções’. Só aconselharia que na próxima, os produtores decidam melhor qual película recriar, a fim de que acertem em cheio. Por fim, espero que o cineasta acerte em seu projeto futuro, e só lamento dizer que seu trabalho aqui foi bom, no entanto não deixa de ser uma cópia desnecessária. Visto que a intenção é o que conta, eu respeito as decisões dele, mas existe uma vasta lista de filmes que foram mal de bilheteria e anseiam ganharem versões distintas, então a minha dica seria pegar estes longas, não importa se forem nacionais, americanos ou japoneses, e ver no que dá. Assim, ficaria bem mais em conta e numa dessas eles até se superam! Por enquanto, entenda que o original é “intocável”, literalmente. Além de tudo, já parou pra pensar se a versão brasileira chega a sair do papel qualquer dia?

Título Original: Inseparáveis
Direção: Marcos Carnevale
Duração: 108 minutos
Nota:

Assista o trailer:

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