Crítica: A Colheita

Peter Weir, em 1985, popularizou nas telas os Amish. O grupo cristão anabatista, que vive principalmente na Pensilvânia, segue um modo de vida do século 18, evitando modernidades e aparelhos eletrônicos, entrou para o mundo pop no filme A Testemunha (The Witness, 1985), onde Harrison Ford faz um policial que se infiltra na comunidade para proteger um menino e uma mãe que são testemunhas de um crime. Adeptos da não violência, ficou famosa a cena em que uma turma de turistas tira onda do grupo e o nosso eterno Indiana Jones se irrita e espanca os zueiros. Em 2019, Ivan Kraljevic usa uma comunidade Amish como cenário para uma possível reconciliação de uma família extremamente urbana que se manda para lá em busca de sossego, mas nem imagina os perrengues que irão passar, falo de A Colheita (The Harvesting, 2019), que estreou recentemente em diversas plataformas digitais.

O filme começa com uma tragédia que abala uma comunidade Amish, e logo pula para a cidade grande onde um casal, Dinah e Jake, enfrentando um crise no casamento, resolve pegar os dois filhos e tentar uma nova chance se refugiando no campo, mais precisamente, perto desse território anabatista. Lá as dificuldades de adaptação dos filhos, urbanos por natureza, começam a aparecer, mas eles passam a ter uma sinistra influência de uma floresta que parece chamá-los para o mal.

Ivan Kraljevic, com experiência de assistente de direção em alguns filmes de terror recente como Annabelle, infelizmente parece que não entendeu nada. No seu debut de diretor nos apresenta um filme óbvio, clichê e extremamente confuso. O roteiro de Ben Everhart parece que colocou um monte de filmes clássicos como Colheita Maldita, A Vila, Homem de Palha, Invocação do Mal, Horror em Amityville, pitadas de A Testemunha e O iluminado no liquidificador, bateu, mexeu, mas transformou a mistura em um prato sem gosto. Usando de clichês banais como família que vai para casa isolada, chacinas provocadas por vozes, florestas malditas, crianças que falam com “amiguinhos” não tão imaginários, pai que fica doidão aos poucos, nativos (no caso os Amish) estranhos e provocadores, solstícios esperados, enfim, aquele filme que usa de tudo, mas acaba não dando certo, esse é A Colheita.

Atuações fraquíssimas, atores em piloto automático e nitidamente parecendo que  nem ao menos estavam se divertindo com o filme. Difícil apontar alguém de destaque em um cast fraco e muito mal explorado. Talvez um dos poucos méritos do filme seja a montagem, que tem alguns momentos de criatividade, mas no contexto geral naufraga como todo o filme.

A Colheita consegue ser um filme de terror que não assusta, nem os óbvios tão usuais jump scares tão em voga no terror moderno são utilizados, a trilha sonora até tenta dar um clima, faz uma cama para acontecer alguma coisa, mas acaba quase nunca acontecendo nada. Até o final, que tenta provocar uma surpresa tentando explicar alguma coisa e unindo duas histórias, acaba sendo tão banal e modorrento que não provoca surpresas.

A Colheita é mais um filme ruim de terror como muitos que infestam os canais de streaming ou de aplicativos pagos nos últimos anos e nada tem a acrescentar ao gênero e nos fazem perguntar onde ficou a criatividade em pequenas obras desse gênero. Comparando aos anos 1970 e 1980, onde pipocavam obras ruins, mas ao menos tinham seu charme e marcaram gerações, coisa que filmes como A Colheita jamais irão conseguir além de ficar no limbo das escolhas dos incontáveis canais de streaming.

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