Convergente (2016)

Baseada no terceiro livro da trilogia best-seller escrita por Verônica Roth. Ao fim de Insurgente (2015), Beatrice “Tris” Prior (Shailene Woodley) e seu namorado Tobias “Quatro” (Theo James) conseguiram derrubar o governo totalitário de Jeanine Matthews (Kate Winslet) e abrir uma caixa misteriosa contendo uma mensagem dos Fundadores convidando-os para conhecer o mundo além dos muros da distópica e futurista Chicago. Tris percebe que os mesmos erros estão sendo cometido por Evelyn (Naomi Watts), líder dos Sem-facção que agora comanda toda a região, desfazendo o regime de facções e aplicando seu próprio senso de governo e justiça, e enfrentando a oposição de Johanna (Octavia Spencer), ex-Amizade e agora guia dos Fiéis, que preferem preservar o antigo sistema. Ao lado de Quatro, seu irmão Caleb (Ansel Elgort), Peter (Miles Teller), Tori (Maggie Q) e Christina (Zoë Kravitz), Tris resolve explorar o desconhecido e entra em um novo mundo devastado por uma espécie de guerra nuclear e um isolado Departamento de Auxílio Genético, dirigido por David (Jeff Daniels).

O primeiro impacto de “Convergente” está na retratação do ambiente físico retratado. Nos filmes anteriores, o futuro distópico estava bem condizente com a possível realidade do mundo daqui a alguns anos. Por mais que a distribuição das facções seja algo meio forçado, o ambiente e essa nova “segregação” ou separação da humanidade por ideais, habilidades ou capacidades não era absurdo. Já neste filme, ainda temos uma visão de como a Terra ficou após as guerras que praticamente destruíram as cidades e dizimaram a população com uma guerra nuclear, praticamente transformando a Terra em Marte, mas foi dado um foco maior para a nova “colônia” além muro. E, nesse caso, ficou muito mais fantasioso do que futurista. Mesmo sabendo que não se deve duvidar nem prever até que ponto o avanço tecnológico pode chegar, as construções, veículos e demais inovações tecnológicas quebraram o clima de realidade. Algumas armas e equipamentos tecnológicos são mais perigosos para o expectador do que para os personagens, pois eles são tão ridículos, irreais ou mal feitos que são capazes de estragar a seriedade do longa e o interesse pela história.

Um ponto positivo é que, mesmo seguindo a (golpista, desgastada e rentosa) prática de dividir o livro final em dois filmes, ao menos este longa possui um início, meio e fim definido. Não termina bruscamente ou do nada como Jogos Vorazes – parte 1. Inclusive, fizeram a opção de não usar “parte 1” e “parte 2”, renomeando para Convergente e Ascendente (que estreia em 2017). Por outro lado, segundo relatos de quem leu o livro, ficaram apenas 2 ou 3 capítulos de fora deste filme, o que significa que vão ter que inventar muita coisa ou encher linguiça para encerrar a trama.

Alguns problemas do filme retratam as fraquezas do livro. Uma das coisas que pode desagradar muita gente não é culpa do diretor Robert Schwentke, nem dos roteiristas e muito menos da atriz principal. Gosto muito da Shailene Woodley, mas a personagem Tris perdeu a força do protagonismo neste longa, se tornando um mero joguete (desculpem novamente a comparação com Jogos Vorazes, mas é basicamente o que Katniss se tornou no seu terceiro filme, mas sem as convicções políticas), marcada por constantemente tomar decisões erradas e confiar demais em quem não devia. Por este motivo, ela entrega o protagonismo do flime para Quatro, que mostra que tem força para comandar sequências de ação e o ator Theo James comprova sua aptidão para o gênero.

convergente2

Outro detalhe que pode irritar alguns é a obrigação de te lembrar que esta é uma franquia adolescente. Então pode o mundo estar explodindo, você estar no meio de um tiroteio ou o maior clima de tensão e medo, mas sempre se arruma um tempinho para uma cena de beijo ou frases românticas de efeito. O filme não funciona no drama ou romance, flerta com a ação (apesar de poucas sequências, conseguem prender a atenção e ser melhores do que o filme anterior inteiro), mas possui um aspecto interessante na ficção científica, embora com algumas explicações forçadas, ingênuas ou até sem sentido, sobre o porquê dos experimentos envolvendo Chicago ou sobre a guerra nuclear e biológica e experimentos com DNA (novamente frisando, excluindo toda a inovação tecnológica ACME da coisa). Ao assistir sem compromisso com a veracidade ou fidelidade dos fatos, torna-se um interessante entretenimento e deve agradar os fãs da saga e os que curtem o gênero.

O filme funciona quanto a entretenimento, aventura ou fantasia. Se eu pudesse classificar a saga por gêneros, diria que Divergente seria um bom filme de ação misturado com um drama filosófico (nota 8.5), Insurgente um péssimo filme de ação (nota 4.0) e Convergente uma aventura sci-fi, mas com menos ação do que o esperado e desejado (nota 7.0). Para os que não desistiram da saga com o desastre de Insurgente, o filme cumpre o que promete e o que se espera de franquias adolescentes. Se Jogos Vorazes não tivesse tido uma parte final tão ruim nos cinemas, diria que ainda existiria um enorme abismo entre as franquias, que sempre são comparadas. Mas como a saga de Katniss caiu bastante no meu conceito final, diria que as duas estão no mesmo nível. Ainda assim, infinitamente superiores a filmes como o último Maze Runner ou possíveis franquias canceladas após o fracasso de seu primeiro/único longa. Ao menos, teremos a chance de conferir a saga até o final.

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *