Balanço do cinema em 2017 | Os destaques, melhores e piores do ano.

Mais um ano passou.

Junto com ele, muita coisa aconteceu no Cinema nesse 2017. Sagas famosas tiveram seu retorno para mais um episódio, franquias bilionárias disputaram seu espaço no coração (e no bolso) do espectador e outras excelentes obras passaram pelas salas brasileiras, muitas delas a maioria não teve acesso pela limitação na distribuição.

Mas o cinema é grandioso e muita coisa boa foi feita, mesmo que você não tenha ouvido falar. O cinema brasileiro teve um excelente ano e os filmes que passaram em circuito limitado não decepcionaram na maior parte, principalmente aqueles que estão disputando vaga no Oscar de 2018 de filme estrangeiro. O terror foi muito bem representado e os filmes de super-herói também, mas também as obras intimistas e diferentes me fisgaram completamente naquela sessão vazia do meio da semana,

Pra fechar esse período cinematográfico, trago o balanço de tudo que foi destaque em 2017, tanto os bons quanto os ruins. Foram 403 filmes vistos e entre eles estão filmes repetidos e que não são deste ano. O critério adotado foi o de filmes lançados em circuito comercial no Brasil no período de 05 de janeiro (primeira grade de estreias do ano) até 28 de dezembro (última grade). Além disso também considerei filmes que entraram no catálogo da Netflix durante todo o ano. Como não fui a nenhum festival, só vou considerar os exemplares que foram distribuídos posteriormente para o circuito tradicional.

Obs: a lista só reflete a opinião particular do colunista que vos escreve.

 

 

OS 10 MELHORES DO ANO.

Sempre tenho grande dificuldade em ranquear meus filmes preferidos do ano. O cinema é algo muito heterogêneo e cada obra tem uma gama de características diferentes entre si, o que faz com que as tentativas de comparação e quantificação de suas qualidades sejam injustas e reducionistas. Mas pelo bem da lista, garimpei os dez filmes que julguei serem os que mais me fizeram justificar minha admiração pela sétima arte. Como seria impossível citar apenas 10, coloquei, em seguida, outros que gostei muito e que têm suas razões para figurarem próximos o bastante dos primeiros. Não há ordem de preferência (aí seria demais pra mim), apenas os citarei na sequência em que foram lançados.

 

1. A Criada (Park Chan-wook, Coréia do Sul).

O cineasta coreano que fez uma galera que não via muito filme fora do circuito hollywoodiano curtir o cinema de seu país (principalmente com Oldboy) mostra que está envelhecendo bem e fez mais um filme que faz jus à sua maturidade e seu talento narrativo. A Criada é uma viagem intensa e cheia de reviravoltas que preza a nossa satisfação em acompanhar uma história com grande esmero técnico e que representa o melhor do “ver um filme sobre filmes” (algo que remete a Quentin Tarantino, que tem essa essência parecida e é mais ou menos da mesma época). A história da criada coreana que planeja dar um golpe em uma herdeira de família japonesa durante a ocupação nipônica é uma verdadeira montanha-russa bem escrita, dirigida e montada.

 

2. Manchester À Beira-Mar (Kenneth Lonergan, EUA).

Emoção engasgada.

Essa é a melhor maneira de tentar descrever o que tanto gostei neste filme. Partindo de um excelente roteiro do próprio diretor (e que ganhou a estatueta), Manchester À Beira-Mar se apoia, em sua maior parte, na rotina de personagens quebrados e suas tentativas de superar suas dores. Só que isso não acontece por meio de grandes viradas e explosões dramáticas. Aqui o sentimento arranha junto com a frivolidade das pequenas coisas. Acompanhar o protagonista em sua dificuldade de expressar o que sente para o mundo faz com que o mundo seja um ambiente ameaçador em sua indiferença. Papel que deu um Oscar a Casey Affleck, a jornada de Lee Chandler rende uma introspecção sufocante e uma sensação de desesperança que salta numa aparente falta de grandes acontecimentos.

 

3. Moonlight (Barry Jenkins, EUA)

O grande vencedor do Oscar de 2017, numa reviravolta que já entrou para a história da cerimônia, é um belo retrato sobre as consequências de uma vida complicada em um personagem e como ele enxerga o mundo à sua volta. Mais preocupado em retratar as sensações do que responder quaisquer questionamentos, Moonlight é a trajetória em capítulos da vida de alguém que parece ter sido completamente moldado pelo ambiente e de como isso criou um escudo protetor em volta de uma alma que quase suplica por alguma redenção emocional. Uma bela fotografia e uma estrutura que desafia o papel e o lugar do clímax numa narrativa fazem com que este seja um filme digno de nota. And the Oscar goes to…

 

4. Logan (James Mangold, EUA)

Hugh Jackman se despede (pelo que parece) do personagem que interpretou pela primeira vez há 17 anos, e faz isso da melhor maneira possível: através de uma “autoralidade” bastante bem vinda, ainda mais por uma saga que tem sofrido muito com filmes ruins e um planejamento meio desordenado. Com um misto de road movie, drama e super-herói, Logan é um retrato inesperado (pelo menos para os fãs do personagem no cinema) de um herói quase indestrutível em decadência física e emocional. Trazendo personagens da saga de uma maneira despida de amarras da censura, esta é uma obra sóbria, emocionalmente intensa, com personagens cativantes e uma trama que teve a liberdade de funcionar sem ter que pensar pensar muito numa continuidade obrigatória.

 

5. Vermelho Russo (Charly Braun, Brasil)

Representante nacional da lista, este é uma bela homenagem ao trabalho de atuação. Marta e Manu (em excelentes atuações de Martha Nowill e Maria Manoella) são duas atrizes brasileiras que viajam à Rússia para fazer um curso baseado no método de Constantin Stanislavski. O filme é uma jornada que mostra a dificuldade de quem tem que dedicar o próprio corpo como ferramenta de trabalho (como é dito em certo momento da narrativa). Uma história sensível sobre o descobrimento do talento e a aceitação das próprias limitações, mas acima de tudo, uma ode aos atores e atrizes que dão vida aos habitantes da miríade de mundos fictícios que compões as histórias que vemos no cinema.

 

6. Planeta dos Macacos: A Guerra (Matt Reeves, EUA)

Fechamento excelente para uma ótima trilogia que decidiu reviver um clássico do cinema. Um blockbuster ideal, que, além de contar com um visual incrível e uma tecnologia de captura de movimento excepcional, ainda tem espaço para desenvolver com profundidade seus personagens não humanos e sua trama repleta de identificações com nossa própria história. Ao contrário do que costuma ocorrer, a cada continuação os filmes só melhoravam e o final é digno de figurar nessa lista e fazer jus ao material de origem.

 

7. mãe! (Darren Aronofsky, EUA)

Já falei algumas vez em críticas e em conversas com colegas que eu passei a aproveitar o cinema muito mais quando entendi que a trajetória e tão ou mais importante que o significado ou o tema de um filme. E se tem um que me fez atravessar um corredeira foi este. Tenho alguns probleminhas com a dependência total da narrativa ao caráter alegórico e a uma necessidade final de dar uma explicada no filme pelo personagem de Javier Barden, mas é inegável que a experiencia cinematográfica foi única e isso acaba valendo mais que tudo (crítica aqui).

 

8. Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, EUA)

É bom começar a se acostumar que todos os filmes desse franco-canadense estarão nas minhas listas de melhores. O cara é muito bom e só prova com o tempo que vai escrever seu nome como um diretor de qualidade acima da média e que consegue trabalhar com uma considerável versatilidade. Não duvidei muito que ele seria o indicado para dar continuidade a um das ficções científicas mais cultuadas do cinema. Aqui ele consegue expandir a mitologia e trabalhar no mesmo nível as ideias e personagens do longa anterior, ainda aliado a um grandioso senso de estética e controle narrativo que sempre exibiu em sua carreira (e ainda tem uma criatura linda chamada Ana de Armas no filme).

 

9. Lucky (Carroll Lynch, EUA)

O adeus de Harry Dean Stanton foi a coisa que mais me emocionou genuinamente numa sala de cinema esse ano. Seus curtos 88 minutos parecem incapazes de conter tanta informação emocional, mas eles são o suficiente para se aprofundar na mente e nas emoções de um homem de mais de 90 anos que se aproxima do fim de sua vida. O iniciante na direção (que não é parente de David Lynch, apesar deste aparecer no filme) consegue algo incrível aqui: aliar economia narrativa à profundidade temática. Parece não ter muita coisa, mas tem tudo que é suficiente para ficar com você durante dias. Um belo presente de despedida.

 

10. Star Wars: Os Últimos Jedi (Rian Johnson, EUA)

O que mais parece ter desagrado boa parte dos fãs da saga foi justamente o que mais eu gostei. As mudanças e os questionamentos promovidos por Rian Johnson deram fôlego à franquia, além de aprofundar a mitologia e os personagens. O filme “menos Star Wars” ainda é Star Wars, mais um senso estético apurado de Johnson e um grau de imprevisibilidade que suplantam muito os erros do filme. Era tudo que eu esperava de um blockbuster e de uma saga que chega aos seus 40 anos de idade.

 

OUTROS DESTAQUES

Aqui entram outros filmes que gostei bastante e que só não tomaram o lugar de outros na lista principal pelo simples fato de que na hora eu achei que fosse assim (se eu fizer outra lista amanhã, tudo pode mudar). Todos eles tem seus motivos particulares de estar aqui e vários deles tem pouquíssima diferença entre si e entre os que estão no Top 10.

Alguns ótimos filmes brasileiros:

Gabriel e a Montanha (Fellipe Barbosa, Brasil) – crítica aqui.

– Redemoinho (José Villamarim, Brasil)

Soundtrack (300ml, Brasil)

O Filme da Minha Vida (Selton Mello, EUA) – crítica aqui.

Bingo – O Rei das Manhãs (Daniel Rezende, Brasil) – crítica aqui

Um Filme de Cinema (Walter Carvalho, Brasil)

Como Nossos Pais (Laís Bodanzky, Brasil)

As Duas Irenes (Fabio Meira, Brasil)

Laerte-se (Eliane Brum e Lygia Barbosa, Brasil)

 

Ótimos filmes estrangeiros:

A Tartaruga Vermelha (Michael Dudok de Wit, Bélgica, França e Japão)

O Cidadão Ilustre (Gastón Duprat, Argentina)

Poesia Sem Fim (Alejandro Jodorowsky, França e Chile)

Uma Mulher Fantástica (Sebastián Lelio, Chile)

Manifesto (Julian Rosefeldt, Austrália e Alemanha)

Corpo e Alma (Ildikó Enyed, Hungria)

 

Documentários:

– Eu Não Sou Seu Negro (Raoul Peck, EUA)

Jim & Andy (Chris Smith, EUA)

 

Filmes que passaram despercebidos:

Silêncio (Martin Scorsese, EUA)

T2 Trainspotting (Danny Boyle, RU)

Columbus (Kogonada, EUA)

Detroit Em Rebelião (Kathryn Bigelow, EUA)

Bom Comportamento (Ben e Joshua Safdie, EUA)

Terra Selvagem (Taylor Sheridan, EUA)

A Babá (McG, EUA)

 

Ótimos filmes de gênero e outros que merecem destaque:

Em Ritmo de Fuga (Edgar Wright, RU)

La La Land – Cantando Estações (Damien Chazele, EUA)

Mulheres do Séc XX (Mike Mills, EUA)

Corra! (Jordan Peele, EUA)

Colossal (Nacho Vigalondo, EUA)

Ao Cair da Noite (Trey Edward Shults, EUA)

Homem-Aranha: De Volta Ao Lar (Jon Watts, EUA) – crítica aqui

– Mulher Maravilha (Patty Jenkins, EUA)

Dunkirk (Christopher Nolan, EUA) – crítica aqui

O Estranho Que Nós Amamos (Sofia Coppola, EUA)

Atômica (David Leitch, EUA)

It – A Coisa (Andrés Muschietti, EUA)

 

OS 10 PIORES DO ANO

 

As duas tragédias cinematográficas do ano dividem o pódio:

Os Guardiões (Sarik Andreasyan, Rússia)

A Noiva (Svyatoslav Podgayevskiy, Rússia) – crítica aqui

 

Seguidos sem ordem de (des) preferência:

Beleza Oculta (David Frankel, EUA)

– Resident Evil 6 – O Capítulo Final (Paul W.S Anderson, EUA)

O Chamado 3 (F. Javier Gutierrez, EUA)

Cinquenta Tons Mais Esuros (James Foley, EUA)

O Espaço Entre Nós (Peter Chelsom, EUA)

Baywatch (Seth Gordon, EUA)

A Torre Negra (Nicolaj Arcel, EUA)

Essa É a Sua Morte (Giancarlo Esposito, EUA)

Tempestade – Planeta em Fúria (Dean Devlin, EUA)

Boneco de Neve (Tomas Alfredson, RU) – crítica aqui

 

Os que não são necessariamente muito ruins, mas foram uma grande decepção:

Alien: Covenant (Ridley Scott, EUA)

Rei Arthur –  A Lenda da Espada (Guy Ritchie, EUA)

A Múmia (Alex Kurtzman, EUA)

O Círculo (James Ponsoldt, EUA)

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Luc Besson, França)

Bright (David Ayer, EUA)

 

 

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