Autora Galvanizada – “Mary Shelley”

A teoria da volta dos mortos hoje tem várias conotações, teorias sérias ou esperanças. No século XIX essas teorias tiveram início com o estudo da galvanizado, que inspirou uma das histórias de terror/horror mais difundidas da história: o monstro de Frankenstein.

O conteúdo dessa história é inovador para a época e ser uma metáfora inteligente sobre os altos e baixos da vida, sobre todos os obstáculos que passamos e precisamos superar no nosso dia a dia. Mas é sobre o Prometheus Moderno que iremos conversar agora, é sobre a mente brilhante atrás dele, Mary Shelley, que ganhou um filme biográfico em 2018 cujo o título é simplesmente seu nome.

Engraçado usar o termo “simplesmente”, nada na vida de Mary Wollstonecraft-Godwin foi simples. Ela era filha de um casal de escritores, ambos com ideais bem diferentes do padrão da sua sociedade, mas que conquistaram o sucesso com seus livros. A mãe dela era uma dessas pioneiras, dessas que hoje podemos agradecer por termos nosso pensamento feminista e o pai um filosofo que tornou-se dono de sua própria biblioteca.

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Mary nunca conheceu a mãe, ela morreu no parto, mas sempre que podia lia seus livros, procurava saber de onde vinha a sua personalidade forte, sua mente aberta. Enquanto isso ela tinha que aguentar a hostilidade da madrasta, Mary Jane Clairmont, que só trouxe duas alegrias para a vida de Mary, seus irmãos, Claire e William. Ela tentava seguir o caminho dos pais, ser escritora, mas nunca conseguia continuar com seu romance.

Depois de uma séria briga entre ela e a madrasta seu pai decidiu a mandar para a casa de uma amigo na Escóssia (eles viviam em Paris), ele também era viúvo, tinha uma filha da mesma idade de Mary e era escritor, preocupava-se com o estudo da literatura e promovia reuniões em sua casa para que os poetas e escritores pudessem expor suas obras.

Mary ShelleyNa primeira reunião em que Mary estava ela conheceu um poeta já famoso na época, alguém que chamou a atenção ela e com reputação de ser radical, viver de seus princípios. Ele era Percy Shelly. Logo eles tiveram essa conexão inexplicável, ela com 16 anos e ele com seus 21 anos.

Mary voltou para Paris, sua irmã fingiu que estava doente porque sentia muito a alta dela, deixando a possiblidade de ter qualquer coisa com Percy, até que, não mais do que de repente, ele surge em sua casa para ser aprendiz de seu pai. Depois do início de um romance ela descobre que Percy já era casado e tinha uma filha, para ele o casamento não significava mais nada, apenas ajudava a sustentar a filha e pronto.

O pai de Mary proibiu que ela se envolvesse com Percy, se ela o escolhesse não seria mais sua filha. E ela fez isso, fugiu com Percy com o sonho de viver esse amor sob os padrões que eles construirem, não como a tradição dizia. Ela levou a irmã, porque ela queria conhecer o mundo. Por um tempo foi bom, apesar de viverem em um quartinho em algo parecido com um cortiço, porque Percy havia sido deserdado e seu novo livro ainda não estava publicado.

Aos poucos a vida foi melhorando, eles mudaram de casa e, como não poderia deixar de ser, Mary engravidou. A menina nasceu bem, mas adoeceu com a época de chuvas, justo com o pai irresponsável teve que fugir de casa e Mary teve que levar a bebe doente sob a forte chuva. Ela não sobreviveu e Mary entrou em depressão.

Mary Shelley

Na época ela já tinha visto um show sobre a galvanização, estudo científico que dizia ser possível dar vida aos mortos. Então ela começou a pensar nisso, afinal perder sua filhinha a atingiu muito e a vida com Percy já não era um conto de fadas, estava sofrendo com as consequências dessa “espírito livre” que ambos tinham.

Eles foram passar uma temporada na casa de Lord Byron, porque Claire estava envolvida com ele. Foi um verdadeiro pesadelo, aquele lugar trouxe o pior de Percy e Mary não aguentava mais, mas conheceu John Polidori, médico particular de Lord Byron e o único sóbrio da casa, que lhe apresentou artigos sobre a galvanização.

Ao voltar para casa Mary conseguiu finalizar aquele romance que sempre tentou fazer. Ela pegou tudo que aprendeu da galvanização e uniu a sua dor, criando assim o livro “Frankestein ou o Prometeu Moderno”. De primeiro não conseguiu publicar com seu nome e teve que ter a introdução assinada por Percy, logo todos imaginavam que ele teria escrito tudo. Quando ela não imaginava que eles poderia dar certo, Percy confessou que ela era a autora, ele não mereceu os créditos.

O pai dela não quis se envolver, nem mesmo voltar a falar com Mary, mas foi ele que conseguiu que a segunda edição do livro fosse publicada com o nome dela, agora de casada (porque finalmente eles oficializaram o casamento, porque Percy ficou viúvo), Mary Shelly, entrando para a história.

Não sei para vocês, mas o que mais me surpreende nessa história foi ter saído da mente de uma mulher de 18 anos. Nem consigo imaginar todo o sofrimento que ela passou para poder ressurgir dessa forma, realmente uma mente brilhante que deve ser lembrada sempre quando alguém duvidar que uma mulher, mesmo que tão jovem, possa fazer uma história tão significante, com tanto simbolismo e que não é um romance romântico, mas sim um terror.

A escolha da protagonista foi certíssima, Elle Fanning, apesar de ser sempre a minha Aurora (do filme “Malévola”), soube dar vida a essa mulher sofrida e brilhante. ela despiu-se do jeito de princesinha e conquistou o ar de sabedoria e alma torturada dos escritores antigos. Ouso dizer que ela superou a irmã, Dakota Fanning, em termos dramáticos sem derramas tantas lágrimas. Que família talentosa!

Preciso falar da presença de dois atores, um porque surpreendeu e outro porque ele esperava mais. Tom Sturridge interpretou Lord Byron e soube sim ser tão excêntrico quanto deveria, deu até nojo dele, daí eu soube da onde eu conhecia esse ator, do filme “Esperar Para Sempre” (“Wainting For Forever” – 2011), com Rachel Bilson, que ele interpreta um moço especial, que persegue a protagonista simplesmente porque a ama e quer a ver sempre, mas não era um stalker psicopata.

Mary Shelley

Por outro lado, participação de Maisie Williams decepciona. Não que a interpretação dela seja ruim, foi bem, ela fez a filha do amigo do pai de Mary da Escóssia,  Isabel Baxter. O problema é que ela parece em, no máximo, três cenas, com pouquíssimas falas, apesar de ser aclamada por seu trabalho em “Game Of Thrones” foi só isso que ela fez nesse filme. Pareceu que a escolha dela foi só para chamar o público da série, o que não é nada legal, porque o filme em si já chamaria, por ser muito bem feito e a história atrair. Sinceramente, acredito que ela poderia ter sido melhor aproveitada.

Não posso terminar essa resenha sem compartilhar um fato que soube pelo filme: Lord Byron inspirou a obra conhecida como pioneira na história dos vampiros, “O Vampiro”, de John Polidori (o médico particular dele). No filme John até comenta com Mary que Lord Byron suga todas as energias daqueles que o rodeiam, sendo o próprio vampiro. Um detalhe interessante é que o livro de primeiro havia sido apontado como de Lord Byron, porque quem publicou foram os editores deles, John morreu sem ter conseguido seus créditos. Só recentemente é que o mundo soube quem realmente escreveu o livro.

Ah, mais uma coisa, só avisando para vocês não terem raiva como eu tive. O filme inteiro é muito bom, mas para mim o final decepcionou, e não porque o roteiro foi ruim, mas porque eu esperava outra atitude de Mary. O fato de ela ter voltado para Percy e ter se casado me doeu um pouco, acreditava que com sua mente evoluída e por tudo que ela havia passado essa não era uma opção, mas foi o que realmente aconteceu, então o filme retratou bem.

Beijinhos e até mais.

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