A Exaustão de Marlo – “Tully”

A maternidade é vivida de formas diferentes, cada mulher, cada família a ver ver de formas diferentes. É mais difícil ainda de imaginar quando não se sonha em ser mãe, mas sabe-se que não é tão simples assim e que deve ser respeitada.

Marlo, em “Tully” (2018), enfrenta dificuldades em viver o terceiro filho. Ela é mulher de 40 anos cuja a juventude pareceu ter sido vivida com muita intensidade nas ruas do Brooklyn, hoje é mãe de dois filhos e está para ter o terceiro. Sua vida não é nada fácil, o marido está com problemas no trabalho que o exige muito tempo, a filha mais velha está em idade difícil de superar e o filho tem problema comportamental que ninguém sabe explicar.

Para completar o seu irmão, Craig, é rico e gosta de mostrar isso. A esposa dele também tem três filhos, mas parece aquelas mulheres de capa de revista, sempre perfeita, parece que nunca teve um problema na vida. Mas Craig quer se reaproximar de Marlo, por isso procura a ajudar nesse momento, ele contrata uma babá noturna para o bebê.

TullyUma babá noturna tem a missão de cuidar da criança durante a noite, ajudando os pais nos primeiros meses, quando o bebê acorda umas cinco vezes durante a noite e mãe nunca dorme. Inicialmente o casal não quer nem pensar nisso, para eles isso é terceirizar o amor e o cuidado dos pais, mas depois de três meses com a caçula, Mia, chorando desesperadamente pela casa, Marlo decide recorrer a tal babá.

Mesmo desconfiando, Marlo chama Tully, que chega a ser estranha aos olhos dessa família, mas logo conquista a patroa ao dizer que ela não vai cuidar só da bebê, mas sim de tudo. Na primeira noite ela limpa a casa toda, que estava abandonada, na segunda descobre no que pode ajudar e assim por diante.

O ponto mais cansativo para Marlo nem era a recém-nascida, mas sim Jonah, o filho “peculiar”. Ela foi chamada várias vezes no colégio para ser informada que o menino precisava de mais atenção, que não poderia estar na mesma sala das outras crianças. Mas, por estar mais descansada por causa de Tully, ela vai conseguindo entender o filho.

Mas o paraíso esse paraíso não é duradouro, Tully precisa ir embora e não encontra a melhor forma de informar isso a Marlo. Numa noite, quando ela sabe que o pai está em casa com as crianças e Mia não iria acordar, Tully chama Marlo para ir beber no Brooklyn, dizendo que ela precisa se divertir um pouco. Não acaba bem, lógico. Marlo quer reviver seus dias de jovem depois que descobre que era o último dia de trabalho de Tully.

Tully

Na volta de casa ela está dirigindo bêbada e cansada, logo se envolve em um acidente, caindo da ponte e indo parar no hospital. Por lá a médica avisa ao marido de Marlo que ela estava em um quadro de exaustão e que precisa de atenção, o que o surpreende e o faz refletir o quanto ele não estava ajudando. Isto serviu para eles se unissem como família, incluindo o irmão rico e ostentador.

Para mim essa sequência final do filme parecia que iria se concluir afirmando que Tully era uma invenção da mente cansada de Marlo, que só precisava repensar na forma como encarava a sua vida, refletindo se poderia ou não ser alguém melhor. Mas Tully de fato existe, fez coisas estranhas para ela, mas que a fez acordar daquele conformismo que a fazia ter raiva dela mesma.

Honestamente as melhores falas são aquelas que envolvem a total indiferença do marido de Marlo. Ele não era uma pessoa ruim, só era o marido tradicional, que saia cedo e voltava tarde, não sabia todos os problemas (não de verdade) e não ajudava em nada. No hospital, quando a médica fala da exaustão e pergunta de ela estava agindo estranho, ele fala que sair de casa e deixando as crianças sozinhas era algo estranho para ela, mas a médica pergunta se ele estava em casa, ele diz que sim.

A conclusão era de que ele não estava fazendo muito diferença e isso deveria mudar, afinal ele era o pai, ele deveria sim acordar à noite com ela, trocar fralda, estar presente. Não consigo entender a razão para os homens não verem que isso é função deles também, deixando as mulheres na total exaustão.

Eu não sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso, não sou mãe e nem pretendendo, além do mais sou crítica e tenho exemplos de pais extremamente presentes na família, o que torna essa indiferença coisa de outro mundo. Mas posso sim dizer que entendo o impacto que faz essa atenção para alguém como Marlo.

Falando em Marlo, elas é interpretada pela belíssima Charlize Theron, e não é nada parecido do que ela já fez. O último filme que eu vi com ela foi “O Caçador e a Rainha do Gelo” (“The Huntsman: Winter War’s” – 2006), onde ela era a rainha Ravenna, venerada pela sua beleza, sua juventude e seu poder, foi um choque ver a mãe de família Marlo, alguém que havia perdido toda sua vaidade por tantos problemas em sua volta. Charlize tem se afirmado cada vez mais na indústria cinematográfica, deixou há muito tempo de ser só um rosto lindo e o padrão ideal, ela é um verdadeiro talento.

Dá uma revolta ver algumas cenas, mas é uma lição que precisa ser dada!

Beijinhos e até mais!

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