Bright: a união perfeita entre a Netflix e Will Smith.

Bright é um dos mais aguardados filmes do ano de 2017. Produzido e distribuído pela Netflix, estrelado por Will Smith e Joel Edgerton, além de um ótimo elenco, esse filme recebeu divulgação extrema. A espera por Bright foi longa, cercada de teorias e contou até com a participação do jornalista Evaristo Costa em comerciais. Outro ponto alto foi a presença ilustre do próprio Will na CCXP desse ano em uma aparição impagável.

Mas a pergunta que não calou até sua estreia: o filme é bom?

Vamos à análise que responderá perfeitamente a esse questionamento…

                                                No começo, Deus criou todas as raças a sua semelhança… mas os Elfos são mais semelhantes.

A trama e suas influências.

Bright é um filme que pega carona em produções como Once Upon a Time, Grimm e Supernatural, isso sem falar em uma produção estrelada pelo próprio Will, os Bad Boys. Afinal, o longa-metragem tem elementos de fantasia, ação, humor e a tradicional fórmula da dupla de policiais que já vimos inclusive em Máquina Mortífera, Hora do Rush, MIB e outros. Ainda que haja a presença de tantos elementos comuns a outras produções, a Netflix acertou ao colocar no mesmo filme Orcs, Elfos, Fadas, Humanos e o questionamento sobre o racismo.

A narrativa está focada nos policiais Nick Jakoby (Joel Edgerton) e seu parceiro Daryl Ward (Will Smith). Isso seria algo perfeitamente comum se não fosse um fato: Jakoby é um Orc, a vergonha de seus semelhantes, já que ele optou por ser policial e quebrar com as regras do clã. Pior do que ser negro em uma cidade de neonazistas, ser um Orc desgarrado é tão ruim quanto ter lepra nos tempos de Cristo. Para piorar – sempre pode piorar – ele foi o responsável por não evitar que seu parceiro fosse baleado por outro Orc, o que levantou dúvidas sobre sua fidelidade ao cargo de policial e suas atribuições atreladas ao fardo de ser um “homem da lei”.

Bright vai muito além do tradicional filme de policiais que precisam aprender a conviver entre si. Racismo, crítica social, gangues, guetos e, principalmente, o uso do gênero fantasia para colocar os seres humanos em segundo plano na Criação, pois são os Elfos o exemplo de perfeição, algo refletido em sua área extremamente rica e abastada, e na beleza deles. Isso reflete nossa sociedade atual onde os mais ricos têm recursos para prolongar a beleza, aumentá-la e ostentá-la.

No meio desse tumulto urbano, uma lenda parece ganhar força ao surgir uma varinha encantada que traz mais desordem, morte e ganância entre os moradores da caótica Los Angeles. A luta para tê-la em seu poder será o estopim de uma noite inesquecível para Ward e Jakoby. Uma noite de sangue, traição e descobertas.

E por falar em lendas, um morador de rua recita uma profecia onde estão incluídos Jakoby e Ward. Será apenas delírio ou há realmente traços de um futuro quase messiânico para esses dois policiais?

Vilões.

São muitos os vilões em Bright. Orcs que são verdadeiros membros de gangues, Elfos assassinos com habilidades ninja, policiais corruptos, Federais sinistros. Há momentos em que a direção e o roteiro nos levam a duvidar da própria dupla de protagonistas. Nesse tumulto generalizado fica uma certeza: o poder corrompe. Essa é a mensagem durante todo o longa-metragem. Atentem para não corromperem suas almas com o “encanto” do poder.

Erros precisam ser esclarecidos.

A trama já inicia com uma cena onde Ward é baleado. Esse acontecimento trás a ele e seu parceiro a dúvida sobre a lealdade. Esse é um ponto importantíssimo da história que deixa claro o quanto é preciso ser honesto sobre os atos praticados. Dúvidas só são esclarecidas com diálogo… algo que, por rancor e medo, demora a acontecer entre a dupla de policiais.

Vamos somar ao que foi dito acima o fato de que as palavras têm poder e influenciam negativamente quando essa é a intenção. Ward é tão preconceituoso e racista (mesmo sendo negro, mas essa é outra realidade, lembram?) que, mesmo sendo amigo de Jakoby, ele é infectado pela semente da discórdia. E o que fica desse contexto? Cuidado com as influências de outros…

Sacrifícios.

Ward e Jakoby são homens que amam o que fazem. Ser policial é uma escolha, principalmente para Jakoby que abandonou seu clã para se tornar policial. Essa foi uma decisão que o tornou um pária entre seus iguais. Assim, o orc se vê isolado até de sua própria raça. Odiado e discriminado pelos policiais, escorraçado pelos demais orcs, alvo constante por ser policial e, ainda, visto como escória pelos elfos: assim é o cotidiano de Jakoby em função de sua decisão de se tornar policial.

Por sua vez, Ward sofre com a pressão dos demais policiais por ter um parceiro orc. Isso piorou quando ele foi atingido por um tiro. Ele não quer ser um alvo ambulante; sua família sofre pelo medo de perdê-lo em ação e tudo piora muito quando surge uma varinha mágica que coloca ele e Jakoby como alvos de gangues, policiais, federais, assassinos elfos e tudo de ruim que eles possam encontrar pelo caminho.

Para manterem suas consciências limpas e cumprirem com seus deveres, eles terão que se expor a tudo. Será uma noite de sacrifícios, descobertas e muita emoção, sangue e mortes.

Destino.

Existe uma profecia na história que aborda o mito de um ser capaz de novamente liderar os Orcs. Também fala-se sobre um Bright que estará ao lado desse líder. Entretanto, profecias precisam de uma coisa para se tornarem realidade: o desejo de homens, orcs ou elfos para que seus destinos aconteçam. Escolhas precisam ser feitas e elas dependem da coragem daqueles que irão fazê-las.

Destino? Acredito que ele é moldado por cada ato nosso, assim como verão ao longo do filme.

Nesse contexto, vale ressaltar que fatos ancestrais ainda marcam os Orcs como seres malignos, tal como hoje são vistos os muçulmanos, alemães, ciganos e outros que pagam pelo passado (recente ou não). O fato é que erros cometidos por indivíduos já mortos ainda afetam negativamente a vida de seus descendentes. Pagar por algo que não fez e não corroborou é uma triste realidade para os orcs, assim como em nossa realidade tantas raças são perseguidas e vistas com desprezo por coisas que aconteceram quando elas ainda não havia sequer nascido… ou caçadas apenas por puro ódio.

Atos.

O filme nos apresenta inicialmente a dupla de policiais. Um pouco de suas motivações é destacada, mas não há um aprofundamento sobre o que levou o mundo a precisar de uma Força-Tarefa dos Magos ou de onde vieram os Orcs, Elfos, Fadas e Centauros (e sabe Deus quantas outras criaturas podem existir nesse contexto).

Ouvi várias reclamações por conta dessa ausência de “explicações”. Dentro do meu entendimento, a profecia do Senhor das Trevas, as organizações Secretas e o que mais exista em Bright não necessita de uma explicação detalhada. Os detalhes estão nas entrelinhas e isso provavelmente é apenas o primeiro passo para uma sequência ou um prequel onde os fatos ancestrais serão mais detalhados. De qualquer forma, o passado é apenas o pano de fundo para que possamos nos aproximar ainda mais desse fantástico novo universo.

Quanto ao desenrolar da trama, vi fluência e coerência nos fatos que são apresentados. Claro que não estamos falando de uma trama complexa ao extremo, porém sei que muitos cobraram mais sobre a mitologia por trás da história, fato que tenho certeza que será melhor explorado em outras produções.

Personagens adicionais.

Nem só de Will Smith e Joel Edgerton vive Bright.

Brincadeiras à parte, o filme tem um ótimo elenco de apoio. A elfa que inicia todo o tumulto é vivida por Lucy Fry, a Tikka. Outra linda elfa está na perfeita Noomi Rapace (recentemente apareceu em Alien: Covenant e Prometheus) cujo papel é a da assassina e dona da varinha mágica, Leilah. Nada a impedirá de chegar até seu artefato, isso fica claro bem cedo na história

Interpretando os agentes federais da Força-Tarefa dos Magos temos os atores Édgar Ramírez (Kandomere) e Brad William Henke (Dorghu), cujas participações são pequenas.

Ike Barinholtz (Pollard) é um dos policiais que mais demonstra ódio pelos orcs. Sua participação em algumas partes do filme traz à memória seu papel em Esquadrão Suicida.

Jay Hernandez é outro ator que tem rápida participação, mas ainda assim competente. Ele é o xerife Rodriguez, amigo de Ward.

Há outros atores e atrizes de destaque que vocês reconhecerão (ou não, conforme a maquiagem) que dão consistência aos acontecimentos no longa-metragem.

Maquiagem e efeitos especiais.

Honestamente, eu não esperava o apuro que vi. Bright capricha nos efeitos visuais e tem uma maquiagem impecável. Os Orcs não permitem que tenhamos qualquer noção de quem esteja por baixo da maquiagem. Os Elfos, entretanto, não apresentam nada de mais além de uma aparência mais pálida, roupas caras e um ar de superioridade que irrita. Mesmo assim, os Elfos são vitais para a trama.

A presença de centauros, dragões e fadas está extremamente convincente. Novamente ouvi críticas quanto a esses seres, porém considero os comentários exagerados, já que cada um desses seres fantásticos foi posto de forma coerente na narrativa. Caso alguém faça queixas sobre o visual, relembro que essa é uma produção não destinada aos cinemas e, mesmo assim, muito bem feita. Eu não vejo pontos ruins nos quesitos maquiagem e efeitos especiais, ambos muito bem postos na história do filme.

Acredito que todo o potencial desses seres será explorado de forma bem mais ampla na sequência de Bright… ou em versões em CGI, animação ou outro meio.

Trilha sonora.

Músicas muito bem escolhidas fazem parte da trilha sonora de Bright e incluem Cannibal Corpse, Corrupted Youth, Sam Hunt, Meek Mill, Yg & Snoop Dogg, Bastille, Camilla Cabello & Grey, entre outros. O destaque fica por conta de Broken People, de Logic & Rag’n’Bone Man, cuja sonoridade lembra um soul triste e melancólico, ideal para a introdução do filme onde é possível ver a segregação racial estampada, literalmente, nos muros… e almas dos que sofrem com isso. Broken People muda para um hip hop de alto nível. Vejam do que falo no clip abaixo:

Conclusão.

Bright é um filme muito bem produzido, cheio de efeitos especiais, ação e atuações divertidas. O roteiro não tem a tensão e a densidade de um texto de Shakespeare, mas isso é um longa voltado para o entretenimento em seu sentido mais amplo e, ainda assim, há uma preocupação com questões como racismo, preconceito, ódio a estrangeiros, organizações criminosas, corrupção e outros temas pertinentes.

Poderia ser apenas outro filme de ação que se esquece logo após o fim dos créditos, porém houve a busca por algo a mais… e eles conseguiram.

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3 Comments

  • EXCELENTE MATÉRIA!
    Parabéns pelo conteúdo! Doido pra ver o filme agora.

    • Valeu, Carlos. Essa foi uma matéria difícil em função das críticas exageradas e radicais sobre o filme. Mas ele tem muitos pontos positivos e, como a maioria das produções de cinema, tem lacunas que, na minha opinião, não afetaram em nada no resultado final.
      Abração e nos vemos no @megadriveanos !

  • Muito boa matéria Franz! O fato de você ter trazido uma série de argumentos para defender os pontos positivos de um filme que que muita gente não gostou mostra a preocupação de uma boa crítica, que é justamente confrontar ideias 😉

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