Revivendo Clássicos: Os Irmãos Cara de Pau-Blues Brothers completam 40 anos

Para começar essa história temos que voltar a, mais ou menos, uns 45 anos. Dan Aykroyd, um amante de soul e blues e seu amigo, John Belushi, que tinha uma tendência mais rock and roll, resolveram criar uma banda de blues. Em janeiro de 1976, a dupla fazia sua estreia no icônico programa Saturday Night Live. Os dois usando como nome de banda Howard Shore and his All Bee Band debutavam na Tv vestidos de abelhas. Em 1978, os dois resolveram criar uma esquete para o programa apresentando a banda, The Blues Brothers, dois irmãos, Elwood (Dan) e Jake Blues (John). O sucesso foi tão grande que no mesmo ano eles gravaram um álbum ao vivo no Los Angeles Universal Amphitheatre de nome Briefcase Full of Blues. O disco também foi um estrondoso sucesso chegando a liderar a parada da Billboard e faturando um disco duplo de platina. Não demorou muito para a dupla resolver passar a história dos dois órfãos amantes de música e velocidade sempre com ternos e chapéus pretos e usando os clássicos Ray-Ban Wayfarer. Nascia ali a ideia de um dos filmes mais cultuados de todos os tempos. Coube ao também anárquico John Landis, amigo de Jim e Dan que vinha do sucesso de O Clube dos Cafajestes transpor para a tela grande o que se transformaria em um dos maiores clássicos cults e modernos dos todos os tempos, Os Irmãos Cara de Pau (Blues Brothers, 1980), que completa 40 anos.

A história do filme é simples. Elwood começa o filme esperando na frente de um presídio a soltura condicional de seu irmão Jake Blues que cumpria pena por assalto a mão armada dois anos antes. Os dois resolvem cumprir uma promessa de Jake que é falar com a madre superiora do orfanato onde a dupla se criou. Lá descobrem que a instituição deve impostos e corre o risco de fechar. Os dois então resolvem tentar de uma maneira honesta conseguir a grana pra salvar o antigo lar. Em uma celebração batista Jake recebe uma luz que o faz ter a ideia de montar a sua velha banda novamente. Os dois então partem em uma missão divina para ir atrás da banda, remontar o grupo e fazer shows para angariar os fundos para cumprir sua missão.

Assistir novamente essa comédia musical non sense é uma delícia sem tamanho. As quase duas horas e meia de duração do longa passam quase despercebidas tamanho desfile de talentos musicais, canções e frenéticas perseguições que pontuam o filme. Como bem definiu John Belushi: o filme é uma justa homenagem à música negra americana. Com participações especiais de lendas como Cab Calloway, Aretha Franklin, James Brown e até a sensacional presença de John Lee Hooker fazendo uma apresentação na rua. As canções do filme também são algo sensacional, a trilha sonora faz até hoje um grande sucesso com clássicos como Gimme Some Lovin, Everybody Needs Somebody, Think, Sweet Home Chicago entre outras. A participação de Ray Charles como dono de uma loja de instrumentos também é marcante e a apresentação de sua música Shake a Tail Feather junto com os Blues Brothers Band é um dos números mais contagiantes do cinema musical.

O roteiro de John Landis e Dan Aykroyd apenas tem uma função: mostrar um pano de fundo para os números musicais e as mirabolantes perseguições em que a dupla se mete. Eles conseguem ser perseguidos pela polícia, exército, Swat, uma ex-namorada explosiva de Jake, um grupo de country, militantes do partido nazista de Chicago, tudo isso turbinado pelo Dodge da polícia que eles dirigem, o Bluesmobile. Conta-se que na época foram usados mais de 150 carros para serem destruídos nessas cenas de intensa ação. Vale também mencionar a cena de destruição de um shopping onde o Bluesmobile entra no recinto fugindo de carros policiais, um shopping inteiro abandonado foi recriado para a cena.

O elenco tem participações de Carrie Fisher, no auge do sucesso como Princesa Leia, como a vingativa e violenta ex-noiva de Jake, que tenta de todo jeito literalmente explodir o ex-noivo; John Candy também em início de carreira como um chefe de polícia, além de pontas da outrora ícone dos anos 60, Twiggy, Steven Spielberg como um burocrata e Frank Oz como um agente penitenciário.

Falando de Blues Brothers não podemos esquecer a banda. Jake e Elwood tem um super time de grandes músicos de verdade e vale citar todos os craques que acompanharam a dupla: Steve Cropper e Matt “Guitar” Murphy, nas guitarras; Donald Duck Dunn e seu indefectível cachimbo no contrabaixo; Murphy Murph Dunne no órgão; Willie Hall na bateria; e nos sopros, Tom “Bones” Malone, Lou Marini e Allan Rubin. Todos excelentes músicos que até hoje acompanham muita gente boa.

O filme foi umas das maiores bilheterias de 1980, a trilha sonora entrou para a história como uma das mais famosas do cinema. Aproveitando o sucesso da dupla eles ainda gravaram um disco ao vivo no mesmo ano, Made in America, surfando na onda da Blues brothers mania se tornando mais um campeão de vendas.

No pós Blues Brothers (vamos combinar: Irmãos Cara de Pau é de um péssimo gosto, que tradução tinhosa), John Landis seguiu sua carreira adiante e fez mais um clássico só que do horror: Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981), um dos melhores filmes de lobisomem de todos os tempos e, em 1983, ainda dirigiu Dan Aykroyd em um clássico oitentista com um novato Eddie Murphy, Trocando as Bolas (Trading Places, 1983) e galgando uma carreira de sucessos nos anos 80. Dan Aykroyd também seguiu encarreirando sucessos na comédia, inclusive mais uma comédia non sense, também em parceria com John Belushi, Estranhos Vizinhos (Neighbors, 1981); o já citado Trocando as Bolas e Caça Fantasmas (Ghostbusters, 1984), entre outros. Infelizmente, John Belushi nos deixou precocemente, no dia 5 de março de 1982 foi encontrado morto em um hotel em Los Angeles após se injetar com speedball, mistura de heroína e cocaína. Uma morte polêmica que envolveu amigos e uma ex-groupie da banda de Belushi que inclusive foi condenada por homicídio por injetar a droga em John. Era notório seu vício em drogas pesadas, mas a tragédia abreviou um dos grandes talentos da comédia dos anos 80 quando esse tinha apenas 33 anos.

Com a morte de Belushi, os Blues Brothers nunca mais foram os mesmos, a banda até tentou algumas voltas com Jim Belushi, o irmão mais novo de John, e um filme mediano foi lançado em 1998, Blues Brothers 2000, com John Goodman. O filme tem bons números musicais, preciosas participações, mas é quase uma cópia do primeiro 18 anos depois, diverte, mas não funciona.

O filme Blues Brothers, passados 40 anos, praticamente não envelheceu, muito pela postura atemporal da dupla, o visual inspirado nos jazzistas dos anos 50 com ternos e chapéus pretos adicionados aos óculos escuros nunca saíram de moda, as músicas encantam até hoje e as cenas de ação feitas de verdade em uma época em que tudo era praticamente de verdade são de uma frequência ágil, mas com uma sutileza e um clima cool que acredito, agradaria até fãs de Velozes e Furiosos. Experimente ver, rever, se divertir e principalmente reverenciar a música que é alma desse clássico inesquecível!

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