O tamanho dos seus ‘porquês’

Essa propaganda da Netflix divulgando a série “13 reasons why” veio após um momento de muitas reflexões na minha vida. Particularmente, a história da Vaneza Oliveira me tocou. Não, eu não sou negro. Só quem é da raça negra pode realmente mensurar o tamanho do sofrimento que ainda existe por uma simples questão de cor da pele. O Brasil, que se diz um país tão liberal, ainda sofre muito desse mal de preconceito racial, religioso, sexual, dentre outros tipos.

Mas o preconceito não atinge apenas (embora em maior número) negros, mulheres, pobres e homossexuais. Todos nós estamos passíveis de sofrer os maiores tipos de preconceitos e humilhações simplesmente porque não nos encaixamos na concepção que os outros fazem de pessoas “perfeitas”, ou ao menos que “mereçam” fazer parte do mesmo círculo social do que elas. Citei particularmente a Vaneza porque acompanho o trabalho dela desde que assisti 3%. É uma moça talentosa, com presença forte, que tem tudo para continuar sendo uma vencedora. Um exemplo de que não se deve se deixar abater pelo racismo, pelas críticas, pelos preconceitos, pelos “nãos”. Vaneza tem toda a minha admiração e respeito pelo que conquistou.

Infelizmente muitos não conseguiram se libertar dos traumas que sofreram na infância e/ou na adolescência. Muitos ainda guardam, mesmo que lá no fundo, aquele sentimento de insegurança, medo, covardia, de que não é capaz, de que é um inútil. Por isso achei por bem compartilhar algo que até então somente uma pessoa sabia desses acontecimentos: eu mesmo.

A minha geração passou a infância rodeado de piadas, zoação, brincadeiras de mal gosto. Hoje isso tem nome: bullying. Hoje criticam o politicamente correto, hoje chamam essa geração de Nutella por sofrer pela discriminação e/ou preconceito e tentar combatê-los. Mas esquecem de que cada pessoa é única, e reage de um modo diferente. Todos temos nossos monstros internos, nossa ferida mortal, nossa forma de reagir ou não ao que o mundo lá fora nos oferece. E a infância/adolescência é um período delicado e perigoso, que nos expõe muitas vezes de forma abrupta e feroz a todo o mal que a sociedade pode nos fazer. Até mesmo de forma involuntária. Até mesmo de forma inocente.

Vou apenas dizer que sou uma vitima indefesa da sociedade? Não! Eu também pratiquei o bullying. Se me arrependo? Extremamente! Sei que no meu caso acabou sendo uma válvula de escape e uma defesa, depois de ser alvo de tantas “brincadeiras”. Mas, assim como eu, cada pessoa tem uma maneira de receber críticas e comentários negativos. Aos que fiz isso, minhas sinceras desculpas e espero que tenham superado. Algo que só consegui me libertar após algumas décadas de sofrimento interno, calado, apenas aceitando tudo o que me foi dito que eu era.

Frescura? Bobagem? Jamais! “Apelidos” às vezes até considerados carinhosos, ou maliciosamente pejorativos, comentários com ou sem a intenção de te machucar, ou algo que você fala só para sacanear a pessoa mesmo, de boas. Tudo pode se tornar um grande espinho na alma de quem foi atingido. “São só crianças, sem malícia, nem vão ligar pra isso…” É nessa forma de pensamento que contribuímos, mesmo de forma involuntária, para marcar negativamente a vida de alguém. Hoje criticam as crianças por se referirem a seus colegas pelo sobrenome. Não me refiro a excessos, nada nós dois extremos é saudável, não é legal criar crianças programadas ou engessadas. Mas também não é legal deixar que tudo ocorra sem limites. Repito, o engraçado pra você é algo profundamente triste para o outro.

Conversem com seus filhos. A brincadeira de hoje pode se tornar o trauma de amanhã. Nem todos possuem força interior suficiente para lidar com os comentários, críticas ou perseguições. Nem todos possuem amor próprio suficiente para saber que aquilo não é verdade, ou não tem importância na sua vida, ou não deveria te atingir. A falta de apoio, preparo ou ajuda podem te levar para o fundo do poço e provocar estragos psicológicos na vida de uma pessoa. E o pior, muitas vezes a pessoa não pede ajuda porque acha que não é necessário. Que isso é normal e você simplesmente tem que aceitar que é assim.

Todos temos defeitos, imperfeições, problemas, inseguranças. Todos somos diferentes e não é nenhum mimimi querer que sejamos respeitados e que as outras pessoas aceitem ou ao menos respeitem quem nós somos. Você pode ser feio, gordo, desajeitado, fraco em algum esporte ou matéria, ter uma opção ou opinião diferente do “padrão”. “Imperfeições” não são defeitos. Características físicas não são defeitos. Sabe o que são defeitos? Os desvios de caráter. Orgulho, inveja e egoísmo. E tudo o que deriva dessas três palavras. Que infelizmente sempre vão existir, no individual e no coletivo. Você irá sofrer por isso em vários momentos de sua vida. Mas comece se vigiando. Comece por você mesmo combater esses 3 sentimentos. Use a seu favor! Aprenda com isso e faça com que não lhe atinja. Mais do que isso, te fortaleça. O que importa é o que realmente somos por dentro. Parafraseando um filme famoso recente: não seja aquilo que te fizeram! Você é a pessoa mais importante de sua vida. Seja na infância, adolescência ou na vida adulta, o mundo lá fora vai continuar cruel e insensível a tudo e a todos. Ao invés de baixar a cabeça, junte forças para enfrentar seus desafios, e nunca se entregue à derrota. O seu mundo muda quando você muda.

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