Análise do livro: “Callíope – A Escrava de Atenas” de Cindy Stockler

A escrava de Atenas: subjugada, abusada e amada

Cindy Stockler quebra todos os conceitos com uma história enigmática e sofrida com toques do drama grego, e apresenta uma personagem que já não tem mais chances de voltar à sua antiga vida, até que se percebe heroína e encontra o seu herói. 

 

A história do livro se passa no período da Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.), também conhecida como a Guerra Mundial da Antiga Grécia.

A obra apresenta várias paisagens, monumentos, estátuas e cultura. Tudo isso muito bem contextualizado com um apêndice cheio de explicações sobre a época e seus costumes.

 

Sinopse

Tudo começa com Callíope, aos 14 anos, uma linda adolescente de olhos azuis e cabelos escuros e ondulados, como os de sua mãe, Ifigênia, sendo entregue por seu pai a um casamento com um homem bem mais velho. Mas a menina já sabia seu lugar nessa sociedade e aceita, sem nem mesmo questionar. Porém, seu coração já batia por outra pessoa, seu amigo, Theo. Um amor platônico, que ainda não sabiam entender como tal. Era mais uma amizade, uma cumplicidade. Theo havia sido trazido para sua casa aos seis anos, por seu pai, que viu o menino sendo vendido como escravo e, sentindo muita pena, resolveu comprá-lo. Theo era como um filho para eles.

Em meio a isso acontecia a Guerra do Peloponeso e seu irmão mais velho fora convocado. Helios era um herói, visto pela família como um filho que trazia muito orgulho. Um “Cidadão”, como seu pai, Ganimedes. Ele tinha um amor escondido, Musságora, que temia assumir por ser uma viúva.

A família vivia bem, tinha uma situação confortável de vida, uma posição de respeito, uma fazenda que produzia.  Porém, por um capricho do destino, essa família se viu numa situação difícil. O resultado de toda essa situação é que Callíope acaba sendo vendida como escrava, e sofre terríveis momentos nas mãos de um capataz violento e que se vale de sua posição para humilhar Callíope.

Longe da família, sem ninguém, não mais dona nem de seu próprio corpo, subjugada à ira do capataz que a odeia, sendo obrigada a ações humilhantes e assediada por ricos cidadãos que desejam seus “favores”, a  jovem helênica tudo enfrenta de cabeça erguida, em seu coração sempre prevalecendo a honra de seus pais.

            “Tártaros queria “compensar” o patrão daquele gasto exagerado. Tão logo chegaram à casa, havia ele mesmo grosseiramente cortado os compridos e macios cabelos de Callíope rente à nuca para vender na ágora às ricas mulheres, para fazerem tranças. As outras escravas assistiram à cena onde a novata, ainda meio amedrontada, fora humilhada pelo capataz que, com brutalidade, lhe pegara os cabelos com uma das mãos, machucando-a, e com a outra passara um facão em linha reta, empurrando-a em seguida.

– Venha…. Eu a ajudo… – dissera uma escrava mais velha, apiedando-se da garota que, caída no chão, atordoada, mal conseguia se levantar”.

A autora Cindy Stockler constrói uma verdadeira guerreira, daquelas que não vemos comumente na literatura, a que luta pela sua vida dentro dos costumes culturais. Callíope – a escrava de Atenas fará os leitores viajar no tempo para 2.500 anos atrás e poderão desfrutar de todas as sensações que apenas a cidade helênica pode proporcionar.

Análise

Ao iniciar a leitura do livro, percebi que uma grande pesquisa histórica foi feita para que fosse escrito. Os acontecimentos todos contextualizados com a Guerra do Peloponeso, a descrição da sociedade da época, os costumes, a alimentação, vestuários, política, tudo isso como pano de fundo para a História de Callíope.

À primeira vista me preocupei que fosse um livro mais histórico do que um romance ficcional. Li o primeiro capítulo com um certo receio mas… descobri um tesouro. A história é envolvente. A trama nos faz rir e chorar, nos faz sentir a dor de cada personagem. Eu entendi, de fato, aquelas chatas aulas de história sobre os “Cidadãos” de Atenas, os “Metecos”, os escravos. Sobre como a mulher era vista e tratada. As relações íntimas dos casais. Como era um casamento. A festa, o dia-a-dia do casal, da família na casa.

A narrativa é bem detalhada, tanto do ponto de vista descritivo, das imagens e cenários, como da contextualização com a sociedade de Atenas. As crenças, os costumes, a conformidade das mulheres com sua situação, nos levam a uma viagem, que cada vez que é interrompida nos deixa ansiosos por continuar, para saber qual será o destino de Callíope e de sua família, de torcer por seu reencontro. Depois de começar a ler, a viagem é sem volta. A vontade é “maratonar” o livro até descobrir o final.

O que marca nesse livro é, além da linda história que nos emociona e nos faz entrar no livro, é o aprendizado. Foi como relembrar as aulas da escola, porém sentindo, estando lá, vivenciando uma Ekklesia, nos encontrando com personagens ilustres como Hipócrates, o pai da medicina, ou Aristófanes, um poeta cômico. Participando de um symposion, uma espécie de festa reservada aos homens, nos divertindo de ver a alegria popular nas Panatenéias, a maior festa ateniense celebrada de 4 em 4 anos, e conhecendo como aconteciam os julgamentos populares.

 

Sobre a Autora

Cindy Stockler, romancista e advogada, é autora, entre outros, de “Operação Caipiroska” – romance que se passa em São Paulo. Especialista em ambientar histórias em lugares singulares e detalhar cada peculiaridade da cultura, a escritora gosta de filmes e romances de época, além de viajar e conhecer as minúcias das grandes e pequenas cidades no Brasil e no mundo – o que contribui para suas idéias e seus romances.

 

Ficha técnica

Callíope – A Escrava de Atenas

Edição: 1ª

Editora: Letras do Pensamento

Ano: 2017

Cidade: São Paulo-SP

Páginas: 336

 

Onde comprar

Livraria da Folha

Amazon

Cia dos Livros

 

 

 

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