Amor é amor – “Uma Família de Dois”

Qual seria a reação que um solteirão malandro teria se um caso do verão passado chegasse e o entregasse um bebê, dizendo que era filha dele? Ah, ela ainda pede dinheiro para pagar o táxi, largando a criança com o cara!

Samuel, um malandro daqueles que tem pós-graduação em lábia, tem até uma boa reação. Leva a bebê para o barco (o emprego dele é cuidar do barco de um grande hotel à beira da praia) e tenta pensar como resolver a situação, isso com a ajuda de duas “amigas”.

A mãe da criança, Kristen, é inglesa e disse que voltaria para Londres depois que pegasse o táxi, por isso Sam pega o primeiro voo para Londres. Chegando por lá percebe que tudo o que sabia dela, que era pouco (só o que tinha no Facebook), era mentira atualmente, ela não trabalhava onde dizia.

Resultado? Ele acaba perdido em Londres, sem saber falar inglês muito bem, sem dinheiro nem documentos (ele se enrolou na estação de metrô, acabou esquecendo uma bolsa com tudo isso por lá). Só para piorar, ele acaba sendo demitido do hotel que trabalhava, apesar do carinho que a dona sentia por ele.

A sorte dele foi que na estação de metrô ele encontrou Bernie, um produtor de séries que estava procurando por alguém que pudesse trabalhar como dublê e sabia falar francês muito bem. Ele viu em Sam um verdadeiro dublê e faz esse convite.

Sam recusa o trabalho de dublê em um primeiro momento, até então ele ainda tinha o emprego no hotel, mas quando não consegue encontrar Kristen e fica completamente perdido na chuva londrina, é para Bernie que ele pede ajuda. O novo amigo londrino dá o emprego e abrigo para ele e para a filha, Glória.

Com o tempo Sam realmente se torna o pai de Glória, cria a menina com todo o amor e carinho que lhe é devido. Com o emprego de dublê ele consegue uma vida estável, monta um apartamento lindo, um pequeno refúgio para a filha e para ele, e faz questão que Glória estude em uma escola francesa, fazendo com que ela conheça as duas línguas.

Eles, incluindo o tio louquinho Bernie, realmente transformam-se em uma família linda.

Só tem duas questões um tanto quanto tristes, uma que eles mal tocam no assunto e outra que se torna a reviravolta do filme.

A primeira não é tão aprofundada: em uma consulta médica fica claro que Sam ou Glória está com uma doença terminal. De toda a forma, somente Sam sabe disso e tenta fazer com que a filha viva cada vez mais feliz. Esse é um dos motivos de ter tanto sentimento, um pai tentando aproveitar os últimos momentos, seja da filha seja dele com ela.

A outra é a questão da mãe. Sam não queria que Glória crescesse sem saber que tinha mãe, então cria todo um mundo para que a filha acredite que a mãe a abandonou, dizendo que Kristen é uma agente secreta.

Ele pegou as fotos de Kristen no Facebook, faz montagem com fotos de famosos e cria um álbum mostrando as aventuras da mãe pelo mundo. Além disso, ele manda todas as noites um e-mail no nome dela para Glória, incentiva que a menina responda a mãe. Quando ele recebe o e-mail dela, copia e manda para o Facebook de Kristen, que ainda existe, mas ela não usa.

Em um dado momento, já quando Glória tem seus 08 anos, ela pede para conhecer a mãe pessoalmente. Do nada, literalmente (coisa que só acontece em filme), Kristen lê as mensagens de Sam no Facebook e vai ao encontro deles em Londres.

A entrada de Kristen na vida deles dá uma alegria nova a Glória, que fica toda orgulhosa em poder apresentar a mãe na escola. Mas também traz questões reais, afinal Kristen não é agente secreta e a filha acaba descobrindo toda a mentira do pai.

Depois de uma briga jurídica, o pai ganha a guarda, mas acaba que a mãe questiona a paternidade. Mas no final o amor entre pai e filha, fosse biológica ou não, é quem vence, um aprendendo a viver com as lembranças dos momentos com o outro.

O filme é emocionante e engraçado, toca nesse assunto delicado que é o abandono familiar, mas mostra que não é impossível viver feliz depois disso, aprendendo com os obstáculos.

Tive muito interesse em assistir esse filme por causa do ator que faz Samuel, Omar Sy, ele é quem fez Dre no filme “Intocáveis” de 2011. Não decepcionou em nada, mais um vez ele fez com que um assunto delicado pudesse ser mostrado com toques de humor e sempre emocionando quem assiste.

Porém ele não brilha sozinho, Antoine Bertrand (Bernie) e Gloria Colston (Gloria) ajudaram, e muito, nesse filme.

Bernie traz uma questão atual, a homossexualidade. Sim, ele é gay e não tem nenhuma vergonha disso, mas, acima de tudo, tem um coração gigante. Quem teria a coragem de abrigar um completo desconhecido com um bebê no colo nos dias atuais? Tudo que ele tinha a ganhar era um dublê, apenas, não precisaria colocar o homem dentro de sua casa, mas ele o fez e ganhou um amigo, não, um irmão e uma sobrinha linda.

Gloria traz toda a delicadeza de uma criança, toda ingenuidade de uma filha que admira tanto o pai. A vida dela não começou fácil e ainda tem muito a enfrentar, afinal só tem 08 anos, mas tem uma alegria no olhar, um sorriso que contagia a todos. Sério, uma menina linda, que sabe passar todo o drama necessário em seu primeiro trabalho como atriz, virei fã.

Um belo filme, não dá nem para perceber que são quase 2h de duração, dá para chorar, para rir e para refletir. Uma excelente pedida para quem gosta de filme francês, mas não quer assistir filmes mais pesados, esse é bem leve.

Beijinhos e até mais!

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