Acertando o Passo: lágrimas, risos e amizade em uma obra lindíssima.

Acertando o Passo é um dos raros filmes que surpreendem desde o trailer até o último segundo de exibição. Vocês podem achar que é brincadeira, mas não há exagero no que declarei. O longa é uma profusão de emoções, belas lições, romance e outros elementos que estão interligados para compor uma verdadeira obra-prima.

Há alguns anos tive o prazer de assistir o ótimo Antes de Partir, filme que conta com os talentos de Morgan Freeman e Jack Nickolson. Na época pensei que dificilmente veria outro filme tão competente e emocionante. Felizmente eu estava errado.

Recentemente recebi o convite para assistir Acertando o Passo. Como disse no início, as expectativas eram grandes, seja pelo elenco repleto de estrelas, seja pela história em si. Eu fui, confesso, na esperança de ver uma comédia romântica com um certo apelo à moral. E não foi bem assim. O que vi me deixou tomado por emoções; transitei do riso (provocado pelo correto humor inteligente) às lágrimas (provocadas pelo drama feito através de um contexto coerente e desenvolvido ao longo do filme).

A obra é inteligente, concebida para trazer à tona nossas emoções mais profundas. Isso é feito com a apresentação de personagens consistentes, críveis e similares a nós ou pessoas que conhecemos.

“Uma coisa é ter medo de morrer. A outra é ter medo de viver.”

A trama básica do longa mostra Sandra Abbott, uma mulher cujo relacionamento de 35 anos é destruído quando descobre a traição do marido. Sem chão, resta a ele buscar apoio – e moradia – na casa da irmã, a divertida e apaixonante Bif.

As duas irmãs são antíteses. As diferenças gritam a cada nova fala ou ação. Mesmo diante do bom humor de Bif, Sandra mantém sua postura arrogante. Esse é um ponto que está abordado de modo a levar o espectador a refletir sobre o distanciamento da família. Via de regra, sempre que as coisas ficam ruins, resta à família permanecer ao nosso lado.

Novos elementos e personagens são inseridos aos poucos, assim como acontece quando começamos uma amizade. Aliás, os amigos de Bif se transformam em nossos também.

São situações que levam Sandra a repensar sua vida, o passado e o futuro. Há novas perspectivas e só cabe a ela abraçá-las.

Assim, passamos todo o filme aprendendo. Há uma lição em cada “frame”. Há doçura nos momentos de alegria e tristeza, tal como na vida real. A direção de XX não poupa o espectador de sentir aquilo que aflige os personagens. Mais do que entreter, a proposta do filme é a de “forçar” quem o vê a sentir, compartilhar as vivências de pessoas que no mundo real não estamos acostumados a dar atenção.

Acho que não citei, mas todos os principais personagens são pessoas idosas. Não pessoas inválidas pela idade e seus efeitos; são homens e mulheres que insistem em viver. Sequelas do passar dos anos são normais, porém isso jamais deve impedir alguém de lutar para ser feliz… e isso fica bem claro em todo o longa-metragem.

Outro ponto interessantíssimo está no apontamento de nosso desconhecimento daquilo que é importante na vida de pessoas que nos são caras. Por incontáveis motivos, deixamos de lado as pessoas amadas. Esse distanciamento – quase sempre – cobra um alto preço. Ama alguém? Então fique o mais próximo possível dessa pessoa. Seja companheiro, amigo e um indivíduo presente. A vida passa tão rápido que, infelizmente, mal temos tempo para despedidas.

Sabe a comparação que fiz entre “Acertando o Passo” e “Antes de Partir”? Bem, basta unir os nomes dos dois filmes que vocês terão uma excelente dica de vida, segundo as duas obras.

Acertando o Passo tem um trunfo vital para sua beleza: as atuações marcantes de cada um dos atores e atrizes que compõem o elenco. Imelda Staunton e Celia Imrie, respectivamente Sandra e Bif, dão vida às irmãs separadas pelo decorrer da vida. A parceria estabelecida ao longo do filme nos faz acreditar que realmente são irmãs. Elas emanam amor uma pela outra, fato destacado por meio de um roteiro enxuto, bem amarrado e emocionante. Vocês certamente irão torcer para que elas alcancem a felicidade plena.

Timothy Spall (Charlie) e David Hayman (Ted) mostram que a atuação britânica ainda tem muito a mostrar. Eles dão base para as atuações de Imelda e Celia. Há uma simbiose incomum entre esse elenco brilhante.

Poderia continuar a dissertar sobre as belíssimas locações, as emocionantes cenas onde a trupe se apresenta ou até mesmo sobre o longo caminho até que Sandra abandone a mulher arrogante que um dia fora. Sim, todos esses elementos estão presentes, mas é na amizade e amor de duas irmãs (principalmente no esforço de Bif para ajudar uma Sandra destroçada pela traição) que o filme tem seu ápice. Fui preparado, como disse no começo deste post, para mais um longa-metragem bom… e encontrei uma obra de arte.

Assim, para evitar estragar as boas surpresas e o aprendizado que só terão ao assistir o filme, encerro aqui meus escritos. Espero que essas poucas palavras tenham sido suficientes para incentivá-los a ver essa encantadora história sobre a vida, suas sequelas e benefícios, e, sobretudo, uma lição para que não esqueçamos que ainda estamos vivos. Há muito lá fora nos aguardando. Vamos viver!

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