8 de março – Dia da mulher maravilhosa

Mais um dia 08 de março chegando. Novamente as mídias e redes sociais nos lembram (e não se enganem, boa parte desses lembretes é somente devido ao capitalismo), que este é o dia internacional da mulher – como se os outros não fossem, mas uma homenagem sempre é legal. Olhando especificamente pelo foco cinema, o que houve de destaque, avanço ou que seja digno de se considerar como positivo?

Em tempos que filmes de heróis estão se tornando (se é que já não são) quase um gênero específico, eu sei que é algo que até extrapola os clichés, mas seria impossível não começar falando de Mulher Maravilha. Não que o filme tenha sido uma completa revolução, mas é inegável a sua contribuição para a sétima arte, para o gênero, para o estúdio e, com certeza, para a contribuição da palavra da moda: empoderamento feminino. Diana Prince fugiu do padrão que as HQs mostravam, muitas vezes com um  pequeno exagero, focando na sexualidade. E o estrondoso sucesso mostrou aos grandes empresários que mulheres podem ser protagonistas de filmes de heróis / heroínas, assim como de qualquer categoria. Também é louvável citar que este foi comandado por uma diretora: Patty Jenkins.

A protagonista, Gal Gadot, tem uma beleza hipnotizante, mas é uma beleza de uma mulher “comum”. Foge completamente de todos os estereótipos e classificações que o padrão de beleza sempre impôs ao mundo da mídia. Ela não tem olhos azuis, não é loira, não tem seios fartos, não tem perfil de gostosona, marombada, coelhinha, ou qualquer outro “tipo”. É simples, discreta e ainda assim também passa longe do perfil “bela, recatada e do lar”. Foi modelo, miss, serviu ao exército, cursou direito e é empresária, além de mãe de duas crianças.

Outro filme do mesmo gênero que também pode ser considerado revolucionário é o sensacional Pantera Negra. Ok, temos o T’Challa (Chadwick Boseman) como protagonista, mas quase todo o elenco de apoio é feminino. E que elenco: temos a rainha-mãe (Angela Basset), uma general (Danai Gurira) e suas guerreiras, uma espiã (Lupita N’yongo) e uma brilhante inventora (Letitia Wright), que também não deixa de lutar quando necessário. Aqui quebramos várias barreiras, pois todas as mulheres citadas aqui são negras. Algo que infelizmente ainda deve ser citado como um diferencial. Eu preferia citá-las apenas como exemplo de força e talento, não destacando a cor de pele. Mas o preconceito racial e social ainda é algo muito presente. Se o mundo dá voltas mesmo, parece que completamos uma e voltamos para logo após o início.

Falando em diretora, tivemos algo raro esse ano. Uma mulher indicada ao Oscar de melhor direção: Greta Gerwig, por Lady Bird. A última vez que isso tinha acontecido foi com Kathryin Bigelow em 2009 com Guerra ao Terror. Greta não ganhou, mas já melhorou as estatísticas.

E continuando no assunto Oscar, os dois filmes que eram considerados os favoritos tinham mulheres como protagonistas. Sally Hawkings e (a vencedora) Frances McDormand tiveram atuações marcantes. Uma viveu uma fábula no vencedor “A forma da água”, era uma sonhadora, que lutou a felicidade, sem nenhum tipo de preconceito ou discriminação. A outra viveu uma mãe contagiada pela dor da perda de filha de modo brutal em “Três anúncios para um crime”, que lutou por justiça e pela liberdade de expressão. Ainda na categoria de melhor atriz, cabe um destaque para Margot Robbie no filme “Eu, Tonya”. Margot, que apareceu para o mundo como a namorada do personagem de Leonardo DiCaprio em “O lobo de Wall Street” e estourou como a Arlequina em “Esquadrão Suicida” provou que mulher bonita também é competente sim! E Merly Streep chegou a 21 indicações ao Oscar. Sinceramente acho que sua atuação em “The Post” não seria para tanto, mas Meryl e Viola Davis podiam ter cadeiras cativas em todos os anos da premiação, porque são sinônimos de talento.

E em tempos que até um dos personagens mais famosos do entretenimento – Doctor Who – passou a ser interpretado por uma mulher (Jodie Witthaker), é digno de nota citar que existe um lobby grande para que outro ícone pop – James Bond – também seja entregue a uma atriz. Charlize Theron, com Atômica, já mostrou que tem todos os atributos físicos para o papel. A própria já se pronunciou elogiando a ideia do maior espião dos cinemas ser do gênero feminino, mas ela se acha “velha” para o papel. Tivemos Jennifer Lawrence, uma das queridinhas de Hollywood, que recentemente atuou justamente como uma espiã em “Operação Red Sparrow”, mas existem várias outra candidatas aptas ao papel. Pode não ser pra agora, mas não é mais uma realidade distante ou um desejo impossível de acontecer.

Isso tudo sem falar no movimento Time’s Up contra o assédio sexual e desequilíbrio no ambiente de trabalho. Só falar sobre isso já daria um post exclusivo. Chegou a hora da população evoluir mais um pouquinho, acabar com os preconceitos e injustiças. Claro que a valorização da mulher deve ser em todos os ambientes de trabalho, não apenas no mundo do show business, mas se essa é uma vitrine, que seja bem aproveitada para a divulgação e que sirva de exemplo.

Guerreira, obstinada, sonhadora, competente, lutadora, forte, trabalhadora, maravilhosa e muitos outros adjetivos. Que todo dia 08 de março não seja comemorado só “o dia da mulher”, já que os outros 364 são delas, mas que seja um momento de celebrar todas as conquistas já obtidas e lutar para que não haja retrocesso. Olhando só para este último ano nos cinemas, nós só estamos ganhando.

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